terça-feira, 6 de setembro de 2011

COMUNICAÇÃO: A GRANDE FERRAMENTA PARA UMA VIDA SAUDÁVEL A DOIS


Ao longo de minha vida profissional e por que não dizer também de minha vida pessoal, venho percebendo que uma das principais queixas das pessoas está relacionada aos problemas no relacionamento. As maneiras que essas queixas se apresentam são variadas, tais como, falta de atenção, de carinho, compreensão, cumplicidade... excesso de cobrança, traição, desrespeito...enfim, são muitas  questões.
 Entretanto, vejo que grande parte dessas questões poderiam ser resolvidas ou até mesmo evitadas com o desenvolvimento de uma grande habilidade entre esses casais: uma boa comunicação.
Quando se fala em diálogo logo pensamos naquela famosa e temida cena da “discussão da relação”, correto? Onde todos os problemas, que em geral já estão bem acumulados, são colocados em pauta, todos de uma só vez! Ambos se sentem no direito de jogar na cara do outro, todas as insatisfações e quase sempre no final da conversa só conseguem ganhar mais um nó na garganta e nenhuma solução para os problemas.
Claro, afinal a vida não é como um texto, no qual temos a chance de passar tudo a limpo! Não da pra querer resolver inúmeras questões numa simples conversa. Questões que muitas vezes nem eram conhecidas pelo outro ou sequer representavam um problema para a outra parte.
Mas podemos sim fazer uma releitura e avaliar onde estamos errando e acertando. Mas pra isso não se pode deixar os problemas acumulando até que estes se tornem insuportáveis e muito maiores do que eram no início.
Muitas vezes na tentativa de se evitar uma discussão, alguns casais ou uma das partes do casal, deixa de falar sobre o que está sentindo. Sabendo que aquele assunto atinge uma zona de tensão entre eles, o assunto é evitado. E é aí que mora o perigo, afinal se a insatisfação não é expressa, isso dá margem para interpretações equivocadas da outra parte. Tanto no sentindo de ignorar aquele problema, quanto de não compreender que aquilo se trata de um problema entre o casal e/ou que aquilo fere a outra pessoa. Com isso, o comportamento ou situação permanece e só tende a aumentar. E a tentativa de se evitar uma discussão pode gerar, ao contrário, uma discussão ainda maior! Afinal, quando se tocar nesse assunto que vinha sendo protelado, a tolerância da parte afetada certamente já estará diminuída e aquele diálogo já não será feito de maneira saudável. Ou seja, o “não dito” muitas vezes é muito mais problemático do que o enfrentamento do assunto ameaçador, se este fosse feito de maneira adequada.
Isso mostra o quanto a obstrução da comunicação, que deveria ser uma ferramenta de facilitação entre o casal, pode levar a relação a um desequilíbrio.
E afinal, qual é a maneira adequada então, de se enfrentar um conflito?
Antes de mais nada é importante que se tenha a compreensão de que, quando se fala de um relacionamento, seja ele qual for, (mas vamos considerar aqui o namoro/noivado e casamento), é preciso levar em conta que estamos lidando com DUAS pessoas. E essas pessoas são seres singulares, com defeitos e qualidades!
Essa diferença pode tanto levar à harmonia, quanto à tensão diante do imprevisto, do desigual. Na maioria das vezes, as pessoas que formam este casal tiveram educações diferentes, desenvolveram valores diferentes, tiveram experiências de vida diferentes, em alguns casos possuem maturidades distintas e trazem suas questões pessoais para o relacionamento. Enfim, a visão de mundo do casal nem sempre é a mesma e daí surgem os conflitos.
Mas então quer dizer que para um casal dar certo eles tem que ser exatamente iguais, pensar exatamente da mesma maneira e concordar sempre com tudo? Claro que não, até porque se fosse assim não existiria nenhum casal junto até hoje!
A questão aqui não é pensar da mesma maneira, mas aprender a chegar num equilíbrio. E para isso é fundamental que se tente compreender e que se aprenda a respeitar a visão de mundo e de vida do parceiro. E que ambos desenvolvam a habilidade de dialogar!
As pessoas quando se relacionam não deixam de serem indivíduos. Continuam sendo seres únicos e singulares. Por mais afinidades que um casal possa ter, sempre haverá alguma questão sobre a qual não vão concordar. E é aí que mora o grande desafio do equilíbrio.
Para se conquistar o bem estar numa relação a dois, é preciso que ambos aprendam a ceder! E veja, ceder não é sinônimo de se anular! É fundamental que as individualidades sejam respeitadas e mantidas após o casamento, namoro, etc. Seus desejos, planos, sonhos, objetivos pessoais devem continuar existindo. O sentimento de posse pelo outro e até mesmo a disputa pelo poder dentro de uma relação, ou ainda o comportamento de se anular para viver a vida do outro, são grandes equívocos cometidos.
Muitas pessoas reclamam que o outro “mudou” depois do casamento ou depois de muitos anos de namoro. Ou então que “esta não foi a pessoa por quem eu me apaixonei”. Claro que cada caso é um caso, mas na maioria das vezes, as pessoas não percebem que o que houve foi uma simbiose tão grande entre o casal, que eles deixaram de ser eles mesmos! Acabam se tornando simplesmente uma extensão do outro e se esquecem de ter vida própria. Amar o outro mais que a si próprio, perder sua individualidade, são grandes erros. Numa visão extremamente romântica e até egoísta, isso pode ser muito bonito, mas garanto que na vida real isso não funciona por muito tempo. Isso fatalmente gerará um desgaste e um descontentamento de ambas as partes e consequentemente virão as cobranças e arrependimentos.
Ao contrário disso, é importante que se compreenda que quando se está com uma pessoa, o que muda é que se tem mais alguém para compartilhar a vida, sem você ter que deixar de ter sua vida própria. Você passa a ter, além de seus projetos pessoais, os projetos de casal! E todas as aprendizagens, conquistas, dificuldades, enfim... a vida como um todo, passa a ser compartilhada com mais alguém. E compartilhar não significa forçar ou manipular o outro para aceitar tudo o que se deseja. O equilíbrio está justamente nisso: em não supervalorizar nem subestimar o “eu” e nem o “nós”, mas conciliar ambos de maneira equilibrada.
Acho que a melhor explicação que já recebi de um dos símbolos mais vistos em casamentos, que são as alianças entrelaçadas, foi de um querido colega de profissão, que dizia que cada aliança representa uma das partes do casal. Num lado eu, no outro você. E o meio delas, onde se cruzam, forma-se o nós!

 Essa foi uma das melhores interpretações que já ouvi a respeito desse símbolo. Afinal é justamente isso! Dois indivíduos que não deixam de ser únicos, mas ao contrário disso, compartilham e criam mais uma faceta em suas vidas: o “nós”.
E nessa nova perspectiva, o nós, é preciso que cada um se conheça suficientemente para que se possa respeitar o outro, compreender o outro, saber que aspectos são seus e que aspectos são do outro dentro de um conflito e ter humildade para reconhecer suas responsabilidades diante de um problema. Saber qual é o momento de ouvir e de falar, saber como falar, não precisar de agressividade para se conversar sobre as questões que envolvem o casal, por mais tensão que exista no assunto. E compreendendo tudo isso, chegar ao tão esperado equilíbrio entre o casal!
Falando assim parece tudo muito utópico, inalcançável, idealizado! Mas posso garantir que tudo isso é possível de ser atingido, se o casal souber fazer uso de uma boa comunicação. Mas atenção! Comunicação é diferente de informação! Informar alguém é algo unilateral, você apenas dá conhecimento de algo a alguém. Já na comunicação, o processo é bilateral, você tem que saber falar e também ouvir, para assim se tornar um processo que promova mudanças no casal.
Essa comunicação, segundo Carl Rogers, deve ser feita de maneira autêntica. Para isso, cada elemento do casal deve ser quem realmente é, sem máscaras. Além disso, Rogers propõe três atitudes comunicacionais básicas: a coerência / congruência, a aceitação positiva incondicional e a compreensão empática.
A coerência e congruência, diz respeito a pessoa ser ela mesma, ser autentica, transparente, sem defesas com relação aos seus sentimentos. A aceitação positiva incondicional refere-se a aceitar as manifestações do outro, sem julgar previamente. E a compreensão empática, ou empatia, é a atitude fundamental de acordo com Rogers, para uma verdadeira compreensão do outro e para uma verdadeira comunicação autêntica entre as pessoas.
A empatia, muitas vezes confundida com simpatia é a habilidade de se colocar no lugar do outro. E sem interferência de seus próprios valores, conseguir sentir como o outro está se sentindo. E a partir disso, compreendê-lo.
Para se evoluir do eu e você para o nós, é muito importante que ambos saibam ter empatia. Isso não significa que a partir disso você irá aceitar e gostar de todos os comportamentos, atitudes de seu (sua) parceiro (a), mas sim que você aprenderá a lidar melhor com suas angústias, a lidar melhor com as angústias do outro e acima de tudo, a respeitar os limites.
Colocando em prática todas essas atitudes e praticando uma boa comunicação, o casal estará contribuindo para um maior desenvolvimento pessoal e consequentemente construindo uma relação mais equilibrada e saudável.
O casamento não é algo sólido e rígido como muitos pensam. Ao contrário, ele é um processo que envolve questões e transformações de duas pessoas. Por isso é tão importante que ambos se descubram, saibam o que querem, aprendam a se relacionar, a se comunicar sem repetir os padrões destrutivos que vem sendo usados, encontrando uma maneira de solucionar os conflitos que satisfaça a ambos.
Quando o casal não consegue alcançar este equilíbrio sozinho, uma alternativa é buscar a terapia. Esta pode ser individual ou de casal, vai variar de caso a caso.
O importante é que o casal busque essa ajuda e lute para a mudança desta relação, enquanto esta ainda valha a pena!  Através da terapia, os indivíduos vão aprender a ser mais plena e profundamente eles mesmos e com isso desenvolver uma comunicação autentica entre si.
Obviamente nem todos os problemas de relacionamento estão ligados a falta de comunicação entre o casal. Este é um dos aspectos do qual falei hoje. Mas no que se refere à comunicação, acredito que estes são os pontos essenciais para que se obtenha uma boa comunicação entre o casal e com isso que se tenha uma vida saudável e feliz a dois!