Ao longo de
minha vida profissional e por que não dizer também de minha vida pessoal, venho
percebendo que uma das principais queixas das pessoas está relacionada aos
problemas no relacionamento. As maneiras que essas queixas se apresentam são
variadas, tais como, falta de atenção, de carinho, compreensão, cumplicidade...
excesso de cobrança, traição, desrespeito...enfim, são muitas questões.
Entretanto, vejo que grande parte dessas
questões poderiam ser resolvidas ou até mesmo evitadas com o desenvolvimento de
uma grande habilidade entre esses casais: uma boa comunicação.
Quando se
fala em diálogo logo pensamos naquela famosa e temida cena da “discussão da
relação”, correto? Onde todos os problemas, que em geral já estão bem
acumulados, são colocados em pauta, todos de uma só vez! Ambos se sentem no
direito de jogar na cara do outro, todas as insatisfações e quase sempre no
final da conversa só conseguem ganhar mais um nó na garganta e nenhuma solução
para os problemas.
Claro, afinal
a vida não é como um texto, no qual temos a chance de passar tudo a limpo! Não
da pra querer resolver inúmeras questões numa simples conversa. Questões que
muitas vezes nem eram conhecidas pelo outro ou sequer representavam um problema
para a outra parte.
Mas podemos
sim fazer uma releitura e avaliar onde estamos errando e acertando. Mas pra
isso não se pode deixar os problemas acumulando até que estes se tornem
insuportáveis e muito maiores do que eram no início.
Muitas vezes
na tentativa de se evitar uma discussão, alguns casais ou uma das partes do
casal, deixa de falar sobre o que está sentindo. Sabendo que aquele assunto
atinge uma zona de tensão entre eles, o assunto é evitado. E é aí que mora o perigo,
afinal se a insatisfação não é expressa, isso dá margem para interpretações
equivocadas da outra parte. Tanto no sentindo de ignorar aquele problema,
quanto de não compreender que aquilo se trata de um problema entre o casal e/ou
que aquilo fere a outra pessoa. Com isso, o comportamento ou situação permanece
e só tende a aumentar. E a tentativa de se evitar uma discussão pode gerar, ao
contrário, uma discussão ainda maior! Afinal, quando se tocar nesse assunto que
vinha sendo protelado, a tolerância da parte afetada certamente já estará
diminuída e aquele diálogo já não será feito de maneira saudável. Ou seja, o
“não dito” muitas vezes é muito mais problemático do que o enfrentamento do assunto
ameaçador, se este fosse feito de maneira adequada.
Isso mostra o
quanto a obstrução da comunicação, que deveria ser uma ferramenta de
facilitação entre o casal, pode levar a relação a um desequilíbrio.
E afinal,
qual é a maneira adequada então, de se enfrentar um conflito?
Antes de mais
nada é importante que se tenha a compreensão de que, quando se fala de um
relacionamento, seja ele qual for, (mas vamos considerar aqui o namoro/noivado
e casamento), é preciso levar em conta que estamos lidando com DUAS pessoas. E
essas pessoas são seres singulares, com defeitos e qualidades!
Essa
diferença pode tanto levar à harmonia, quanto à tensão diante do imprevisto, do
desigual. Na maioria das vezes, as pessoas que formam este casal tiveram
educações diferentes, desenvolveram valores diferentes, tiveram experiências de
vida diferentes, em alguns casos possuem maturidades distintas e trazem suas
questões pessoais para o relacionamento. Enfim, a visão de mundo do casal nem
sempre é a mesma e daí surgem os conflitos.
Mas então
quer dizer que para um casal dar certo eles tem que ser exatamente iguais,
pensar exatamente da mesma maneira e concordar sempre com tudo? Claro que não,
até porque se fosse assim não existiria nenhum casal junto até hoje!
A questão
aqui não é pensar da mesma maneira, mas aprender a chegar num equilíbrio. E
para isso é fundamental que se tente compreender e que se aprenda a respeitar a
visão de mundo e de vida do parceiro. E que ambos desenvolvam a habilidade de dialogar!
As pessoas
quando se relacionam não deixam de serem indivíduos. Continuam sendo seres
únicos e singulares. Por mais afinidades que um casal possa ter, sempre haverá
alguma questão sobre a qual não vão concordar. E é aí que mora o grande desafio
do equilíbrio.
Para se
conquistar o bem estar numa relação a dois, é preciso que ambos aprendam a
ceder! E veja, ceder não é sinônimo de se anular! É fundamental que as
individualidades sejam respeitadas e mantidas após o casamento, namoro, etc. Seus
desejos, planos, sonhos, objetivos pessoais devem continuar existindo. O
sentimento de posse pelo outro e até mesmo a disputa pelo poder dentro de uma
relação, ou ainda o comportamento de se anular para viver a vida do outro, são
grandes equívocos cometidos.
Muitas
pessoas reclamam que o outro “mudou” depois do casamento ou depois de muitos
anos de namoro. Ou então que “esta não foi a pessoa por quem eu me apaixonei”.
Claro que cada caso é um caso, mas na maioria das vezes, as pessoas não
percebem que o que houve foi uma simbiose tão grande entre o casal, que eles
deixaram de ser eles mesmos! Acabam se tornando simplesmente uma extensão do
outro e se esquecem de ter vida própria. Amar o outro mais que a si próprio,
perder sua individualidade, são grandes erros. Numa visão extremamente
romântica e até egoísta, isso pode ser muito bonito, mas garanto que na vida
real isso não funciona por muito tempo. Isso fatalmente gerará um desgaste e um
descontentamento de ambas as partes e consequentemente virão as cobranças e
arrependimentos.
Ao contrário
disso, é importante que se compreenda que quando se está com uma pessoa, o que
muda é que se tem mais alguém para compartilhar a vida, sem você ter que deixar
de ter sua vida própria. Você passa a ter, além de seus projetos pessoais, os
projetos de casal! E todas as aprendizagens, conquistas, dificuldades, enfim...
a vida como um todo, passa a ser compartilhada com mais alguém. E compartilhar
não significa forçar ou manipular o outro para aceitar tudo o que se deseja. O
equilíbrio está justamente nisso: em não supervalorizar nem subestimar o “eu” e
nem o “nós”, mas conciliar ambos de maneira equilibrada.
Acho que a
melhor explicação que já recebi de um dos símbolos mais vistos em casamentos,
que são as alianças entrelaçadas, foi de um querido colega de profissão, que
dizia que cada aliança representa uma das partes do casal. Num lado eu, no
outro você. E o meio delas, onde se cruzam, forma-se o nós!
Essa foi uma
das melhores interpretações que já ouvi a respeito desse símbolo. Afinal é
justamente isso! Dois indivíduos que não deixam de ser únicos, mas ao contrário
disso, compartilham e criam mais uma faceta em suas vidas: o “nós”.
E nessa nova perspectiva,
o nós, é preciso que cada um se conheça suficientemente para que se possa respeitar
o outro, compreender o outro, saber que aspectos são seus e que aspectos são do
outro dentro de um conflito e ter humildade para reconhecer suas
responsabilidades diante de um problema. Saber qual é o momento de ouvir e de
falar, saber como falar, não precisar de agressividade para se conversar sobre
as questões que envolvem o casal, por mais tensão que exista no assunto. E
compreendendo tudo isso, chegar ao tão esperado equilíbrio entre o casal!
Falando assim
parece tudo muito utópico, inalcançável, idealizado! Mas posso garantir que
tudo isso é possível de ser atingido, se o casal souber fazer uso de uma boa
comunicação. Mas atenção! Comunicação é diferente de informação! Informar
alguém é algo unilateral, você apenas dá conhecimento de algo a alguém. Já na
comunicação, o processo é bilateral, você tem que saber falar e também ouvir,
para assim se tornar um processo que promova mudanças no casal.
Essa
comunicação, segundo Carl Rogers, deve ser feita de maneira autêntica. Para
isso, cada elemento do casal deve ser quem realmente é, sem máscaras. Além
disso, Rogers propõe três atitudes comunicacionais básicas: a coerência /
congruência, a aceitação positiva incondicional e a compreensão empática.
A coerência e
congruência, diz respeito a pessoa ser ela mesma, ser autentica, transparente,
sem defesas com relação aos seus sentimentos. A aceitação positiva
incondicional refere-se a aceitar as manifestações do outro, sem julgar
previamente. E a compreensão empática, ou empatia, é a atitude fundamental de
acordo com Rogers, para uma verdadeira compreensão do outro e para uma verdadeira
comunicação autêntica entre as pessoas.
A empatia,
muitas vezes confundida com simpatia é a habilidade de se colocar no lugar do
outro. E sem interferência de seus próprios valores, conseguir sentir como o
outro está se sentindo. E a partir disso, compreendê-lo.
Para se
evoluir do eu e você para o nós, é muito importante que ambos saibam ter
empatia. Isso não significa que a partir disso você irá aceitar e gostar de
todos os comportamentos, atitudes de seu (sua) parceiro (a), mas sim que você
aprenderá a lidar melhor com suas angústias, a lidar melhor com as angústias do
outro e acima de tudo, a respeitar os limites.
Colocando em
prática todas essas atitudes e praticando uma boa comunicação, o casal estará
contribuindo para um maior desenvolvimento pessoal e consequentemente
construindo uma relação mais equilibrada e saudável.
O casamento
não é algo sólido e rígido como muitos pensam. Ao contrário, ele é um processo que
envolve questões e transformações de duas pessoas. Por isso é tão importante
que ambos se descubram, saibam o que querem, aprendam a se relacionar, a se
comunicar sem repetir os padrões destrutivos que vem sendo usados, encontrando
uma maneira de solucionar os conflitos que satisfaça a ambos.
Quando o
casal não consegue alcançar este equilíbrio sozinho, uma alternativa é buscar a
terapia. Esta pode ser individual ou de casal, vai variar de caso a caso.
O importante
é que o casal busque essa ajuda e lute para a mudança desta relação, enquanto
esta ainda valha a pena! Através da
terapia, os indivíduos vão aprender a ser mais plena e profundamente eles
mesmos e com isso desenvolver uma comunicação autentica entre si.
Obviamente
nem todos os problemas de relacionamento estão ligados a falta de comunicação
entre o casal. Este é um dos aspectos do qual falei hoje. Mas no que se refere à
comunicação, acredito que estes são os pontos essenciais para que se obtenha
uma boa comunicação entre o casal e com isso que se tenha uma vida saudável e
feliz a dois!
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