quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O medo de sentir medo

Pânico! Terror! Talvez estas sejam sensações que a maioria das pessoas já experimentaram em alguma situação de suas vidas. Afinal, a sensação de “medo” é algo bastante natural e até mesmo importante para nossa sobrevivência. O medo não é necessariamente uma emoção negativa. Na verdade ele é, tanto para os homens, quanto para os animais, um mecanismo de autoproteção, de manutenção de nossas vidas, afinal de contas se não tivéssemos medo de nada nos arriscaríamos o tempo todo. 

O medo é uma emoção aprendida, onde vamos compreendendo ao longo da vida o que são objetos ou situações que devem gerar medo ou não. Assim, temer um assalto, um incêndio ou qualquer outro tipo de violência é algo racional e esperado. Diante de uma situação dessas, o nosso organismo dispara automaticamente mecanismos que nos fazem reagir, em ação de luta ou fuga, para nossa própria defesa.

O problema é quando esse medo toma proporções exageradas, incontroláveis e até irracionais ou quando estas reações automáticas de “luta e fuga” ocorrem diante de situações inofensivas.

O medo está sempre acompanhado da ansiedade e de certa forma apresentam definições muito parecidas, sendo o medo o “receio de fazer algo que represente perigo real ou imaginário” e a ansiedade “perturbação, apreensão que antecede momentos de perigo real ou imaginário”. 

Quando este medo passa a ser excessivo (o pavor ou pânico), aparece constantemente e causa danos na vida da pessoa, isso passa a ser denominado como Transtorno de Ansiedade, mais especificamente o Transtorno de Pânico ou popularmente conhecido como Síndrome do Pânico. 

A síndrome do pânico caracteriza-se pelas crises inesperadas de ansiedade em diversas situações, que anteriormente não geravam nenhum tipo de insegurança ou medo no individuo. Geralmente, durante uma crise, a pessoa apresenta sintomas psicológicos e físicos, tais como: angústia, inquietação, insônia, aflição crescente, enjoo, boca seca, suor, tremores, sensação de desmaio, falta de ar, tontura, taquicardia, dores no peito (muitas pessoas pensam estar enfartando e chegam a procurar um hospital, principalmente quando se trata da primeira crise). Nessas crises, que costumam ter duração de cinco a quarenta minutos, é muito comum o sentimento de medo de morrer nas pessoas, justamente pelos sintomas de taquicardia e falta de ar, sentimento este – medo de morrer - que pode se estender até para depois das crises. 

Ao contrário das fobias, essas crises acontecem sem um objeto desencadeador específico, por exemplo, fobia de baratas; e sem aviso prévio, ou seja, em um minuto a pessoa está bem e no minuto seguinte tem uma crise. 

Essa crise pode acontecer uma única vez, o que não significa que a pessoa tenha síndrome do pânico. Isso pode ocorrer por diversos fatores, até mesmo por estresse ou uso de algumas substâncias/drogas (cocaína, cigarro, álcool, anfetaminas, etc), mas se as crises se tornarem frequentes trata-se de um caso de transtorno do pânico.

A crise de pânico acontece devido a uma descarga de substâncias como a serotonina e a noradrenalina no cérebro, que fazem vir a tona todos esses sintomas acima citados. A questão é que isso ocorre diante de uma situação totalmente normal para aquele indivíduo. O organismo recebe um aviso: “Fuja! Perigo!”, totalmente sem propósito, já que não existe nenhum perigo real eminente naquele momento, levando a pessoa a um fortíssimo estado de ansiedade que por mais que ela saiba que não há o que temer, deseja fortemente fugir daquela situação. E saber que não há nada de perigoso ou ameaçador é ainda mais confuso ao indivíduo, que muitas vezes pensa que está ficando louco!

Porém, por mais que a pessoa saiba que não há perigo naquela situação em que viveu a crise, há uma associação entre elas e a pessoa passa a temer e evitar aquela situação. A cada nova crise surge um novo objeto fóbico, o que leva a pessoa cada vez mais a ter limitações em sua vida na tentativa de evitar uma nova crise. É o medo de ter medo! A pessoa é dominada por pensamentos de terror, sofre com a ansiedade antecipatória e tenta evitar essas situações. E com isso começa a ter sérios prejuízos em sua vida, pois passa a evitar sair de casa, ficar sozinha, muitas vezes deixa de trabalhar, de dirigir, de estudar, enfim, são inúmeros prejuízos na vida social, pessoal, profissional e até financeira desse indivíduo.

Inclusive sofre muito pela falta de entendimento e compreensão de amigos e familiares a respeito do seu caso, que muitas vezes passam a tratar aquele problema como “frescura” ou fraqueza da pessoa, promovendo um afastamento ao invés do apoio.

O problema é que, justamente por apresentar sintomas físicos, que levam a pessoa a pensar que tem alguma doença física, (possibilidade de sofrer um enfarte, derrame, entre outros), as pessoas que sofrem do transtorno de pânico, em geral passam por uma enorme peregrinação, de médico em médio, sem receber um diagnóstico preciso. Ou pior, ouvem a célebre frase: “você não tem nada, isso é estresse!”. Essa falta de conhecimento, tanto do médio quanto do paciente, faz com que a busca por uma ajuda adequada seja protelada e com isso o quadro só vai se agravando, além de gerar uma angústia enorme no indivíduo, que não entende o que está acontecendo consigo mesmo! Por isso é tão importante que tanto os profissionais da saúde, quanto a própria população, recebam mais informações a respeito desse problema para que possam buscar ajuda especializada e o tratamento adequado, diante dessa situação.

O diagnóstico da síndrome do pânico, não é algo tão simples de ser dado. É fundamental que em primeiro lugar, sejam descartadas todas as possibilidades físicas para aqueles sintomas que vem apresentando. 

Portanto é preciso sim que se façam exames para descartar qualquer doença física. Descartada essa condição, o diagnóstico é realizado através da história do paciente, do relato das crises e sintomas e até de seu histórico genético. Isso porque, as causas da síndrome do pânico podem estar ligadas ao conteúdo genético da pessoa, mas também, quase sempre, está atrelada a uma vivência muito traumática na vida do indivíduo. Pode ser a perda de alguém especial, um assalto, enfim, varia muito de pessoa para pessoa e nem sempre é uma situação que aconteceu há pouco tempo, o que dificulta à pessoa relacionar as crises ao fato. Pode ter sido algo que ocorreu há meses e que agora está culminando nas crises. 

O mais importante é saber que existe luz no fim do túnel! Chegado ao diagnóstico, a sensação de alívio para o indivíduo é grande, pois este passa a compreender o motivo de toda sua aflição e percebe que na verdade não está ficando louco e que a melhora pode ser alcançada. Em geral, o tratamento envolve um acompanhamento psicoterápico e o uso de medicamentos (antidepressivos) para acalmar os sintomas.
Mas é importante ressaltar que de nada adianta apenas tomar os remédios, pois estes apenas mascaram o problema com o alívio dos sintomas. Se não fizer a terapia em conjunto, assim que suspender o uso dos remédios os sintomas fatalmente reaparecerão. Já com o tratamento em conjunto (terapia mais medicamentos) é possível sim reverter ou atenuar muito o quadro de pânico.

O tratamento psicológico varia muito de profissional para profissional e de suas diversas técnicas, mas em geral, envolve técnicas de relaxamento, de respiração, mas o mais importante, permite que o indivíduo compreenda que seus sentimentos de medo são involuntários e entenda suas reações físicas, podendo retomar seus sentimentos de segurança, confiança em si mesmo, que são tão atingidos pelos pensamentos de terror; permite entender as causas do problema, a situação evocadora das crises (daí a importância de um acompanhamento adequado, pois como dito anteriormente, muitas vezes é difícil de se estabelecer a relação entre a crise e a situação traumática vivida, já que esta pode ter ocorrido há meses atrás) e acima de tudo, compreender e solucionar os conflitos envolvidos no problema e assim, poder se organizar novamente e retomar sua vida de maneira saudável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário