Pânico!
Terror! Talvez estas sejam sensações que a maioria das pessoas já
experimentaram em alguma situação de suas vidas. Afinal, a sensação de
“medo” é algo bastante natural e até mesmo importante para nossa
sobrevivência. O medo não é necessariamente uma emoção negativa. Na
verdade ele é, tanto para os homens, quanto para os animais, um
mecanismo de autoproteção, de manutenção de nossas vidas, afinal de
contas se não tivéssemos medo de nada nos arriscaríamos o tempo todo.
O
medo é uma emoção aprendida, onde vamos compreendendo ao longo da vida o
que são objetos ou situações que devem gerar medo ou não. Assim, temer
um assalto, um incêndio ou qualquer outro tipo de violência é algo
racional e esperado. Diante de uma situação dessas, o nosso organismo
dispara automaticamente mecanismos que nos fazem reagir, em ação de luta
ou fuga, para nossa própria defesa.
O
problema é quando esse medo toma proporções exageradas, incontroláveis e
até irracionais ou quando estas reações automáticas de “luta e fuga”
ocorrem diante de situações inofensivas.
O
medo está sempre acompanhado da ansiedade e de certa forma apresentam
definições muito parecidas, sendo o medo o “receio de fazer algo que
represente perigo real ou imaginário” e a ansiedade “perturbação,
apreensão que antecede momentos de perigo real ou imaginário”.
Quando
este medo passa a ser excessivo (o pavor ou pânico), aparece
constantemente e causa danos na vida da pessoa, isso passa a ser
denominado como Transtorno de Ansiedade, mais especificamente o
Transtorno de Pânico ou popularmente conhecido como Síndrome do Pânico.
A
síndrome do pânico caracteriza-se pelas crises inesperadas de ansiedade
em diversas situações, que anteriormente não geravam nenhum tipo de
insegurança ou medo no individuo. Geralmente, durante uma crise, a
pessoa apresenta sintomas psicológicos e físicos, tais como: angústia,
inquietação, insônia, aflição crescente, enjoo, boca seca, suor,
tremores, sensação de desmaio, falta de ar, tontura, taquicardia, dores
no peito (muitas pessoas pensam estar enfartando e chegam a procurar um
hospital, principalmente quando se trata da primeira crise). Nessas
crises, que costumam ter duração de cinco a quarenta minutos, é muito
comum o sentimento de medo de morrer nas pessoas, justamente pelos
sintomas de taquicardia e falta de ar, sentimento este – medo de morrer -
que pode se estender até para depois das crises.
Ao
contrário das fobias, essas crises acontecem sem um objeto
desencadeador específico, por exemplo, fobia de baratas; e sem aviso
prévio, ou seja, em um minuto a pessoa está bem e no minuto seguinte tem
uma crise.
Essa
crise pode acontecer uma única vez, o que não significa que a pessoa
tenha síndrome do pânico. Isso pode ocorrer por diversos fatores, até
mesmo por estresse ou uso de algumas substâncias/drogas (cocaína,
cigarro, álcool, anfetaminas, etc), mas se as crises se tornarem
frequentes trata-se de um caso de transtorno do pânico.
A
crise de pânico acontece devido a uma descarga de substâncias como a
serotonina e a noradrenalina no cérebro, que fazem vir a tona todos
esses sintomas acima citados. A questão é que isso ocorre diante de uma
situação totalmente normal para aquele indivíduo. O organismo recebe um
aviso: “Fuja! Perigo!”, totalmente sem propósito, já que não existe
nenhum perigo real eminente naquele momento, levando a pessoa a um
fortíssimo estado de ansiedade que por mais que ela saiba que não há o
que temer, deseja fortemente fugir daquela situação. E saber que não há
nada de perigoso ou ameaçador é ainda mais confuso ao indivíduo, que
muitas vezes pensa que está ficando louco!
Porém,
por mais que a pessoa saiba que não há perigo naquela situação em que
viveu a crise, há uma associação entre elas e a pessoa passa a temer e
evitar aquela situação. A cada nova crise surge um novo objeto fóbico, o
que leva a pessoa cada vez mais a ter limitações em sua vida na
tentativa de evitar uma nova crise. É o medo de ter medo! A pessoa é
dominada por pensamentos de terror, sofre com a ansiedade antecipatória e
tenta evitar essas situações. E com isso começa a ter sérios prejuízos
em sua vida, pois passa a evitar sair de casa, ficar sozinha, muitas
vezes deixa de trabalhar, de dirigir, de estudar, enfim, são inúmeros
prejuízos na vida social, pessoal, profissional e até financeira desse
indivíduo.
Inclusive
sofre muito pela falta de entendimento e compreensão de amigos e
familiares a respeito do seu caso, que muitas vezes passam a tratar
aquele problema como “frescura” ou fraqueza da pessoa, promovendo um
afastamento ao invés do apoio.
O
problema é que, justamente por apresentar sintomas físicos, que levam a
pessoa a pensar que tem alguma doença física, (possibilidade de sofrer
um enfarte, derrame, entre outros), as pessoas que sofrem do transtorno
de pânico, em geral passam por uma enorme peregrinação, de médico em
médio, sem receber um diagnóstico preciso. Ou pior, ouvem a célebre
frase: “você não tem nada, isso é estresse!”. Essa falta de
conhecimento, tanto do médio quanto do paciente, faz com que a busca por
uma ajuda adequada seja protelada e com isso o quadro só vai se
agravando, além de gerar uma angústia enorme no indivíduo, que não
entende o que está acontecendo consigo mesmo! Por isso é tão importante
que tanto os profissionais da saúde, quanto a própria população, recebam
mais informações a respeito desse problema para que possam buscar ajuda
especializada e o tratamento adequado, diante dessa situação.
O
diagnóstico da síndrome do pânico, não é algo tão simples de ser dado. É
fundamental que em primeiro lugar, sejam descartadas todas as
possibilidades físicas para aqueles sintomas que vem apresentando.
Portanto
é preciso sim que se façam exames para descartar qualquer doença
física. Descartada essa condição, o diagnóstico é realizado através da
história do paciente, do relato das crises e sintomas e até de seu
histórico genético. Isso porque, as causas da síndrome do pânico podem
estar ligadas ao conteúdo genético da pessoa, mas também, quase sempre,
está atrelada a uma vivência muito traumática na vida do indivíduo. Pode
ser a perda de alguém especial, um assalto, enfim, varia muito de
pessoa para pessoa e nem sempre é uma situação que aconteceu há pouco
tempo, o que dificulta à pessoa relacionar as crises ao fato. Pode ter
sido algo que ocorreu há meses e que agora está culminando nas crises.
O
mais importante é saber que existe luz no fim do túnel! Chegado ao
diagnóstico, a sensação de alívio para o indivíduo é grande, pois este
passa a compreender o motivo de toda sua aflição e percebe que na
verdade não está ficando louco e que a melhora pode ser alcançada. Em
geral, o tratamento envolve um acompanhamento psicoterápico e o uso de
medicamentos (antidepressivos) para acalmar os sintomas.
Mas
é importante ressaltar que de nada adianta apenas tomar os remédios,
pois estes apenas mascaram o problema com o alívio dos sintomas. Se não
fizer a terapia em conjunto, assim que suspender o uso dos remédios os
sintomas fatalmente reaparecerão. Já com o tratamento em conjunto
(terapia mais medicamentos) é possível sim reverter ou atenuar muito o
quadro de pânico.
O
tratamento psicológico varia muito de profissional para profissional e
de suas diversas técnicas, mas em geral, envolve técnicas de
relaxamento, de respiração, mas o mais importante, permite que o
indivíduo compreenda que seus sentimentos de medo são involuntários e
entenda suas reações físicas, podendo retomar seus sentimentos de
segurança, confiança em si mesmo, que são tão atingidos pelos
pensamentos de terror; permite entender as causas do problema, a
situação evocadora das crises (daí a importância de um acompanhamento
adequado, pois como dito anteriormente, muitas vezes é difícil de se
estabelecer a relação entre a crise e a situação traumática vivida, já
que esta pode ter ocorrido há meses atrás) e acima de tudo, compreender e
solucionar os conflitos envolvidos no problema e assim, poder se
organizar novamente e retomar sua vida de maneira saudável.
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