O divórcio ou separação entre casais tem se tornado cada vez mais comum em nossa sociedade. Antigamente havia muito estigma e preconceito em cima deste, muitos dogmas religiosos, culturais, a própria educação impunha valores onde o divórcio era mal visto, a mulher não era bem aceita na sociedade após uma separação, enfim, muitas questões que truncavam a tomada desta decisão vêm melhorando muito nos últimos anos. Entretanto, mesmo com todas essas mudanças, tomar a decisão por um divórcio, continua sendo uma tarefa árdua para os cônjuges.
Quando um casal se vê diante da decisão de se separar, além de todas as negociações que este processo envolve, principalmente quando existem filhos, este casal também se vê diante do fracasso de uma relação, do sentimento de quebra de todas as expectativas e planos despendidos naquele casamento, e por mais consolidada e amadurecida que esta escolha esteja ela vai gerar uma crise e sofrimento para todos os envolvidos. Isso porque esse processo envolve inúmeras mudanças e transformações na vida de todos. E, por mais difícil que esteja sendo aquela relação, a separação envolve perdas. E as perdas provocam sofrimento.
Normalmente o divórcio é resultado de inúmeras pequenas crises na relação, que vão desequilibrando o casal pouco a pouco. Os motivos dessas crises são diversos e variam de casal para casal. Mas podem envolver frustrações, dívidas, doenças, o fato de um dos dois não acompanhar o amadurecimento do outro e a incompatibilidade se tornar insuportável, problemas sexuais, de traição, etc. De uma forma geral, o processo de separação envolve algumas fases, que tem inicio antes mesmo da tomada de decisão pela mesma. Começa quando em meio a tantas brigas e conflitos, o casamento vai se desfazendo e culmina no “divórcio emocional”, no qual há um desencantamento pelo outro e surge o desejo da separação. Em seguida vem a separação física, econômica, decisões sobre guarda dos filhos, até a oficialização do divórcio na sociedade. Mas acima de todas as questões legais, o mais importante são os sentimentos que sempre surgem neste período.
As pessoas que vivem uma separação passam por uma crise muito significativa em suas vidas, na qual por mais que saibam que aquela relação estava causando insatisfação, a perda da mesma também causa dor. A vida nova que as espera pela frente, pode até parecer muito atraente, mas por outro lado leva a um desequilíbrio, onde toda a estabilidade, a rotina de uma vida e uma relação anterior é perdida. São forçados a se tornar mais autônomos, independentes (e essa independência nem sempre é só financeira, mas também emocional), precisam encarar uma vida totalmente nova e isso gera muito medo e dúvidas sobre o que fazer.
Muitas vezes pela dificuldade que envolve esse processo, com todos esses conflitos internos e mudanças, as pessoas perpetuam uma relação falida, tentando fugir de um sofrimento, sem perceber que apenas estão mantendo outro problema e outros sofrimentos.
A questão é que, se todas as alternativas para se tentar recuperar esta relação já foram esgotadas e não tiveram resultado, e se a opção pelo divórcio foi feita, então este deve ser feito da maneira mais saudável possível, para tentar minimizar o sofrimento de todos.
Durante o processo de separação, as pessoas vivem um período de “luto” pelo fim da união. Tem sentimentos de tristeza, depressão, muitas vezes irritação e é muito comum a mudança de humor constante (da depressão à euforia) neste período. Também é comum que aquele que tomou a decisão pela separação (se esta foi uma escolha unilateral) passe a sentir culpa pelo sofrimento gerado ao outro, a si mesmo e principalmente aos filhos.
Aliás, a preocupação de como esta decisão irá refletir nos filhos, é um dos pontos mais difíceis para a maioria dos pais lidarem. Afinal, assim como tudo é novo e desconhecido para os pais, os filhos também passarão por inúmeras transformações em suas vidas e sem ter participado daquela escolha. Por isso, é natural que eles se sintam assustados, tristes e muitas vezes com raiva. Tudo isso vai depender da maturidade de cada um e principalmente de como está sendo vivido este processo.
Uma criança sofrerá muito mais se esta virar alvo de disputas e brigas entre os pais ou se vivenciar um divórcio que envolva confusões, humilhações, por exemplo. Já se este processo de separação for bem pensado, analisando todas as consequências da mudança (tanto psicológicas quanto econômicas e sociais); se houver uma boa relação entre pais e filhos apesar da separação; se esta criança se sentir amparada e for esclarecida de tudo o que está acontecendo. Se compreender que continuará sendo amada e cuidada pelos pais, por mais que estes não estejam mais juntos; que elas têm liberdade para conversar sobre o que estão sentindo, com certeza estes filhos não se sentirão desestabilizados emocionalmente.
Sofrimento haverá para todos, pois como disse toda perda gera sofrimento e com os filhos isso não será diferente. Mas dizer que os filhos de pais separados serão fatalmente filhos com problemas psicológicos é muito precipitado e até de certo modo preconceituoso. Até porque a manutenção de uma relação de brigas, discussões e agressões pode ser muito mais devastadora do que a separação por si só. E como os filhos vão reagir à separação vai variar muito de acordo com sua idade e desenvolvimento e, sobretudo, de acordo com a forma que este processo for conduzido, podendo esta criança ter uma vida saudável mesmo passando por tantas mudanças.
Mas nem sempre é tão fácil para os pais saberem lidar com tudo isso de forma saudável e sem conflitos. Até porque eles próprios estão vivendo momentos difíceis e tendo sentimentos de tristeza, raiva e solidão.
Por isso é tão importante que este momento doloroso seja respeitado e se os cônjuges (ou um deles) perceberem que não estão dando conta de lidar com isso sozinhos, antes ou após a separação, é necessário que busquem uma ajuda psicológica.
Neste caso, a terapia terá a função de dar apoio e orientação no enfrentamento de todas as mudanças que ocorrerão, poderá facilitar a resolução dos conflitos tão comuns neste processo, auxiliar na elaboração das perdas, de sentimentos mal resolvidos, de possíveis questões pessoais que possam vir à tona durante a separação. Enfim, a terapia pode facilitar a passagem por este período difícil, que na verdade nada mais é que um período de mudanças que pode ser vivido com o mínimo de sofrimento possível, fortalecendo o indivíduo para essa nova fase de sua vida e mostrando a grande oportunidade que tem pela frente, de recomeçar a sua vida de forma leve e saudável e podendo viver tudo novo, de novo!
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