quinta-feira, 17 de abril de 2014

A contribuição da Psicologia para o Trânsito

Atualmente os problemas de acidente e violência no trânsito atingem níveis alarmantes e a discussão sobre a responsabilidade de cada cidadão neste contexto se faz cada vez mais importante. De modo geral, grande parte dos acidentes de trânsito acontece por fatores humanos, mas, além disso, ocorrem devido a comportamentos humanos irresponsáveis no trânsito, portanto esta discussão se faz extremamente necessária.
            A maioria da população não tem conhecimento de que o psicólogo também pode ser uma importante peça dentro deste processo. Considerando que o homem e seu comportamento, além dos processos conscientes e inconscientes são objeto de estudo da Psicologia e o homem é participante do trânsito de diversas maneiras, ou seja, é pedestre, motorista amador e profissional, motoqueiro, ciclista, etc., a Psicologia também participa dos processos envolvidos no trânsito.
            Existe um ramo específico da Psicologia, a Psicologia do Trânsito, que estuda o comportamento dos participantes do trânsito, como seres sociais, resultantes deste processo e suas consequências na sociedade, além de estudar o processo psíquico envolvido no ato de dirigir. Isso significa que o trabalho do psicólogo do trânsito não se resume somente a avaliação dos candidatos para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação ou renovação da mesma (para os motoristas profissionais), vulgo psicotécnico, que é o que a maioria das pessoas conhece.
Ao estudar os comportamentos individuais e sociais e os fatores envolvidos no ato de dirigir, a Psicologia do Trânsito visa contribuir para um maior conhecimento do homem e promover a diminuição de acidentes, podendo auxiliar com diretrizes educacionais, oferecendo assim, subsídios para uma maior segurança no trânsito para todos.
Segundo os especialistas, a questão dos acidentes e mortes no trânsito já pode ser considerada um problema de saúde pública. Isso porque, o trânsito é um dos principais causadores de morte no país. Além dos casos de óbitos no trânsito, existem também aqueles que sequer entram para as estatísticas, mas que foram feridos no trânsito e sobreviveram, porém ficaram com sequelas para a vida toda e também precisam de reabilitação. Com isso, automaticamente aumentam o numero de internações nos hospitais, cirurgias, tratamentos, enfim, uma gama de recursos são destinados para esta demanda, o que contribui ainda mais para a falta de vagas e recursos na saúde, que já é um problema sério no Brasil.
Não irei me aprofundar, pois este é um assunto muito extenso e complexo, mas gostaria de destacar o quanto se faz necessário que haja um investimento intenso em educação e reeducação da população com relação ao trânsito. Isso não é suficiente, pois tem que acontecer um trabalho em conjunto: aumentar a fiscalização, punir os culpados de maneira eficiente, melhorar as condições das estradas, rodovias, as sinalizações, entre outros. Porém, somente através da educação das crianças e adolescentes que já fazem parte do trânsito desde pequenos e futuramente possivelmente como motoristas e também através de uma reciclagem daqueles que já dirigem, será possível ocorrer uma tomada de consciência do homem da sua responsabilidade como cidadão.

Grande parte dos acidentes acontece por imprudência, falta de consciência, de conhecimento e educação. Além da impunidade que fortalece ainda mais estes comportamentos. Então, não há outra forma de transformar essa realidade que não seja através da educação, por isso é fundamental que se intensifique cada vez mais, trabalhos de equipes multidisciplinares (desde os engenheiros que planejam as vias, até os pais e educadores, psicólogos, instrutores de trânsito, enfim, todos os envolvidos), para que aconteça uma mudança de postura da população e essa triste realidade se transforme.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Autismo

Hoje, dia 02 de abril é o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, então nada melhor do que falar um pouquinho dessa questão, do que se trata este transtorno e como é importante buscar o diagnóstico o mais breve possível.
O autismo é um transtorno neurológico, caracterizado pelo desenvolvimento comprometido da interação social e da comunicação, que pode aparecer de maneira isolada ou associada a outros distúrbios, (como a epilepsia, por exemplo). Até hoje não existem provas concretas a respeito da relação do autismo com causas psicológicas, mas sabe-se que questões psicológicas podem agravar o caso. Apresenta uma grande incidência na infância, ocorrendo em torno de quatro vezes mais em meninos do que em meninas.
Os sintomas que atrapalham a interação social e dificultam o aprendizado, aparecem com intensidades diferenciadas em cada indivíduo, e nem sempre aparecem todos na mesma pessoa. Em geral, estes sinais se apresentam até os três anos de idade, por isso é fundamental que os pais estejam atentos aos mesmos, pois quanto antes o autismo for diagnosticado e a criança começar a ser trabalhada, maiores são as chances de ter um melhor desenvolvimento.
As principais características e sintomas do autismo são:

- Dificuldade de relacionamento com outras crianças
- Riso inapropriado
- Pouco ou nenhum contato visual
- Aparente insensibilidade à dor
- Preferência pela solidão
- Rotação de objetos
- Inapropriada fixação em objetos
- Perceptível hiperatividade ou extrema inatividade
- Ausência de resposta aos métodos normais de ensino
- Insistência em repetição, resistência à mudança de rotina
- Ausência de medo/consciência do perigo
- Procedimento com poses bizarras
- Ecolalia (repete palavras ou frases em lugar da linguagem normal)
- Recusa colo ou afagos
- Age como se estivesse surdo
- Dificuldade em expressar necessidades  (usa gesticular e apontar no lugar de palavras)
- Acessos de raiva - demonstram extrema aflição sem razão aparente
- Habilidade motora irregular.

As causas do autismo ainda são indefinidas, embora sua relação com os fatores biológicos seja indiscutível segundo especialistas. Porém, existem algumas suspeitas, de que haja relação com questões genéticas, vírus, toxinas, desordens metabólicas, intolerância imunológica, infecções virais e uso demasiado de antibióticos durantes os três primeiros anos de vida. Entretanto estas ainda são apenas hipóteses, por isso é imprescindível que estudos e pesquisas continuem sendo realizadas nessa área para que os conhecimentos se aprofundem.
Entretanto, embora ainda não haja conhecimento de sua causa específica, por outro lado, os tratamentos são amplamente desenvolvidos e quanto antes começar a estimulação, melhor! Os tratamentos são inúmeros e são compostos por várias terapias diferentes, envolvendo técnicas fonoaudiológicas, medicamentos para aliviar os sintomas, educação especial, entre outros, todas com o objetivo de desenvolver os aspectos emocionais e intelectuais do indivíduo; auxiliando o aprendizado de comportamentos sociais (contato visual, comunicação com o mundo externo), comportamentos acadêmicos, além de atividades do cotidiano, inclusive higiene pessoal, ou seja, visa o desenvolvimento de habilidades que o torne cada vez mais independente, além de trabalhar a exclusão de alguns comportamentos, tais como, as agressões verbais, auto agressões, repetições de palavras, entre outros.

O autismo ainda é um assunto muito complexo que merece e necessita de muita pesquisa e desenvolvimento, bem como da atenção do poder Público. Além disso, a sociedade como um todo também precisa de uma maior conscientização a respeito do que se trata o autismo, pois este é um problema que afeta toda a família, que também precisará de apoio e orientação, para não só saber identificar os sintomas e buscar ajuda especializada o mais breve possível, mas também poder aprender a lidar com as dificuldades, com o preconceito que muitas vezes aparece, aprender a valorizar os pequenos ganhos, enfim, todos unidos (profissionais/família/educadores...) com o intuito de proporcionar uma melhora no desenvolvimento e na qualidade de vida deste indivíduo e no bem estar de todos os envolvidos.

quarta-feira, 19 de março de 2014

MEDO DO DESCONHECIDO

“Apesar de todas as semelhanças, cada situação da vida tem, tal como uma criança recém-nascida, um novo rosto, que nunca foi visto antes e nunca será visto novamente.” - Martin Buber.


Diversas vezes na vida nos deparamos com situações que nos pegam de surpresa, para as quais não estávamos preparados ou com resultados diferentes do que tínhamos planejado e isso pode despertar diferentes emoções e reações em cada pessoa, isto é, uma situação desconhecida mexe com os indivíduos de diferentes maneiras, mas em geral, podem ser um pouco assustadoras de início.
A mudança pode ser de origem prática ou emocional, interna ou externa, desejada ou inevitável, como por exemplo, uma mudança de emprego, de cidade, de relacionamento amoroso, uma doença, etc. Mas toda e qualquer mudança quase sempre gera certa instabilidade, que leva ao medo. Isso acontece porque a pessoa não sabe ao certo como agir diante daquela situação, já que nunca a viveu ou mesmo que já tenha vivido, sempre irá experimentar aquela situação de uma nova maneira em diferentes momentos. E essa sensação desconfortável de perda de controle que as mudanças trazem, fazem o alarme de “PERIGO!” tocar dentro de nós. Entretanto, muitas vezes acontece uma defesa exagerada diante do novo, que eleva os níveis de ansiedade, provoca insegurança, estresse e muitas vezes chega a paralisar as atitudes do sujeito, desnecessariamente.
O novo é quase sempre muito assustador, porque a vida toda aprendemos desde muito cedo a buscar por uma situação de segurança: seja no emprego, nos relacionamentos, na vida de um modo geral. Quanto mais estável, aparentemente mais seguro estou.
Porém, isso é uma enorme ilusão! Viver sempre as mesmas situações dá uma falsa sensação de proteção, pois nos faz pensar que somos detentores de todas as respostas, o que na verdade só leva ao comodismo e fortalece ainda mais a insegurança. Deixar de viver algo novo nos impede de crescer, de amadurecer, de aprender coisas novas, de desenvolver nosso “jogo de cintura”! Mesmo que seja errando! Pois grande parte do medo do novo está ligada também ao medo do fracasso, medo de errar. Então, para não cometer um erro, para evitar sofrimento, também se evita o novo e tudo de bom que essa “novidade” pode trazer consigo.
Caminhar sob um território desconhecido pode ser sim muito assustador, o que é natural, o problema acontece quando se deixa dominar por este medo e passa a limitar suas experiências na vida por conta disso. Ao se permitir conhecer novos caminhos, abre-se espaço para perceber que é capaz de lidar com aquilo, de vencer aquele “desafio” seja ele qual for e com isso se fortalece a confiança em si mesmo. Tudo vai depender de como cada um reage diante de uma nova oportunidade. Mesmo que seja algo ruim a primeira vista. Mas podemos crescer e aprender com absolutamente tudo que nos acontece, é apenas uma questão de escolha.
Sim, é possível fazer uma escolha consciente diante de uma situação desconhecida! Por mais que a primeira reação seja de medo, seja de olhar apenas para os aspectos negativos, existe a possibilidade de reflexão, de parar e compreender o que está acontecendo, de que maneira isso afeta sua vida e que para tudo há uma saída, uma possibilidade de adaptação e de incorporar novos conhecimentos. E muitas vezes aquilo que víamos como algo negativo e assustador podem até se transformar numa mudança positiva da vida.

Essa angustiante situação de viver algo diferente, que nos desorganiza, nos desestabiliza, ao mesmo tempo também promove um movimento em direção a evolução! Vida é movimento, mudança, transformação! Se há uma dificuldade muito grande em se adaptar ao novo, em lidar e enfrentar situações novas, talvez buscar a terapia seja uma saída para tentar aprender a lidar com isso. Afinal, ao compreender melhor a si mesmo e ao que está envolvido com este medo paralisante é possível dar o primeiro passo em direção à mudança! E a partir disso se fortalecer e estar internamente melhor preparado para as futuras e inevitáveis mudanças e desafios que a vida trará, afinal, cada momento é único e pode e deve ser vivido intensamente!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Timidez ou fobia social?

Ir à escola, namorar, passear, ir ao trabalho, relacionar-se com outras pessoas... Todas estas parecem situações muito triviais e até prazerosas da vida da maioria das pessoas. Mas, infelizmente, isso não é assim para todo mundo.

Para as pessoas que são tímidas, estas podem ser tarefas muito penosas e causadoras de sofrimento. Afinal, a timidez interfere no desempenho dos diversos planos da vida de um indivíduo: amoroso, social, profissional, etc. devido à dificuldade de se relacionar, de enfrentar novos desafios ou simplesmente da inibição de estar na presença de outras pessoas. 

E essa dificuldade ou medo vem da excessiva preocupação com seu desempenho social e com o julgamento dos outros sobre si, pois sentem uma grande necessidade de aprovação. Precisam ser aceitos, querem se relacionar, mas em contrapartida não se acham capazes de conquistar isso. 

E para evitar essa sensação de ansiedade, angústia, acabam por evitar situações novas, para ter um mínimo de segurança. Passam a repetir sempre as mesmas coisas, deixando de viver experiências vitais para seu crescimento, o que faz com que a timidez evolua ainda mais, tornando-se um círculo vicioso. 

As origens da timidez são diversas, vindo desde o temperamento de cada um, até a experiência de vida de cada pessoa. Assim, algumas pessoas podem passar simplesmente por uma fase de timidez e superá-la ou então em função de experiências negativas, traumas, frustrações, temem ainda mais o enfrentamento das situações e na medida em que vão amadurecendo se tornam cada vez mais retraídos.

Certo grau de timidez é tolerável e até normal. Sentir-se ansioso diante de uma entrevista de emprego, do primeiro encontro amoroso, de uma apresentação de trabalho, enfim, situações de “exposição” em geral causam aquele “friozinho na barriga”, deixam o coração acelerado, as mãos trêmulas. O problema é quando isso passa a ser incapacitante. E a timidez em seu nível normal não é. Quando esta se torna limitante, quando há um bloqueio da pessoa diante das situações do cotidiano, então estamos diante da timidez em seu nível patológico, também conhecida como fobia social. Esta pode aparecer numa situação especifica apenas (falar em público, por exemplo) ou generalizada, onde inúmeras situações sociais causam extrema ansiedade.

No transtorno de ansiedade social ou fobia social, ao contrário da timidez, há um extremo e constante medo de estar no centro das atenções e o nível de ansiedade é muito grande. Quando não conseguem evitar os eventos sociais de forma alguma, enfrentam-no com imenso sofrimento. E este sofrimento ocorre antes, durante e depois do evento. Antes, pela expectativa da situação. Durante pelo medo de ser julgado negativamente pelos outros, de ser observado o tempo todo. E depois, pois fica remoendo a situação vivida, sempre se avaliando como fracassado.

Sente-se culpado pelo seu problema e incompreendido pelo mundo. Foge dos contatos sociais, evita as situações que causam ansiedade, mas sente imensa solidão. 

Os sintomas em sua maioria são: rubor facial, suor intenso, tremor, gagueira ou fala trêmula, tensão muscular, taquicardia e secura na boca. E quase sempre o indivíduo acredita que todos a sua volta estão percebendo seu desconforto e isso piora ainda mais seu nervosismo. Em casos mais graves, os sintomas de ansiedade chegam a se manifestar até como um ataque de pânico, inclusive com o medo da morte. 

As pessoas com fobia social detestam ser o foco de atenção e sempre pensam que os outros o acham idiotas, estranhos, descontrolados. E eles por sua vez, se cobram um bom desempenho o tempo todo, não se permitem errar com medo de não serem aceitos pelos outros.

Obviamente isso causa prejuízos na vida desses indivíduos em diversos setores já que quase tudo que fazemos necessita de interação social ou exposição. Então são sujeitos que sofrem muito, sentem-se incompreendidos e isolam-se.

Esconder os sintomas por vergonha também é algo muito comum, mas que deve ser evitado. Quanto mais cedo começar o tratamento da fobia social, melhor, pois quanto mais o tempo passa, mais a fobia toma conta de novos aspectos da vida do indivíduo. 

O tratamento envolve psicoterapia e dependendo do caso faz-se necessário um acompanhamento médico para a indicação de antidepressivos e/ou calmantes. As medicações quando necessárias são usadas para diminuir a ansiedade exacerbada. Isso auxilia no tratamento e no enfrentamento das situações evitadas. 

Com a terapia, o indivíduo tem a chance de desmistificar suas crenças negativas a respeito de si mesmo, ajuda a melhorar o desempenho social e a enfrentar seus medos. Mas isso requer muita vontade e determinação da pessoa também. Não há uma fórmula mágica na terapia e o indivíduo é grande responsável pela sua melhora. O terapeuta será um facilitador, uma ferramenta que irá utilizar para seu desenvolvimento. Mas este precisa estar disposto a enfrentar seus medos, gradualmente, conforme for se sentindo preparado; disposto a encarar dificuldades, a aprender que errar é humano e até saudável, pois isso nos traz aprendizagens e crescimento pessoal. 

Com isso poderá deixar seus medos de lado e poderá viver uma vida normal, sem tanta ansiedade, sofrimento e privações, vivendo a vida como ela realmente é: com seus lados positivos e negativos, com ganhos e perdas, erros e acertos, sem ilusões ou expectativas de uma perfeição que ainda não existe para nenhum de nós, afinal de contas somos todos seres humanos!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Divórcio: tudo novo, de novo

 
O divórcio ou separação entre casais tem se tornado cada vez mais comum em nossa sociedade. Antigamente havia muito estigma e preconceito em cima deste, muitos dogmas religiosos, culturais, a própria educação impunha valores onde o divórcio era mal visto, a mulher não era bem aceita na sociedade após uma separação, enfim, muitas questões que truncavam a tomada desta decisão vêm melhorando muito nos últimos anos. Entretanto, mesmo com todas essas mudanças, tomar a decisão por um divórcio, continua sendo uma tarefa árdua para os cônjuges. 

Quando um casal se vê diante da decisão de se separar, além de todas as negociações que este processo envolve, principalmente quando existem filhos, este casal também se vê diante do fracasso de uma relação, do sentimento de quebra de todas as expectativas e planos despendidos naquele casamento, e por mais consolidada e amadurecida que esta escolha esteja ela vai gerar uma crise e sofrimento para todos os envolvidos.  Isso porque esse processo envolve inúmeras mudanças e transformações na vida de todos. E, por mais difícil que esteja sendo aquela relação, a separação envolve perdas. E as perdas provocam sofrimento.

 Normalmente o divórcio é resultado de inúmeras pequenas crises na relação, que vão desequilibrando o casal pouco a pouco. Os motivos dessas crises são diversos e variam de casal para casal. Mas podem envolver frustrações, dívidas, doenças, o fato de um dos dois não acompanhar o amadurecimento do outro e a incompatibilidade se tornar insuportável, problemas sexuais, de traição, etc. De uma forma geral, o processo de separação envolve algumas fases, que tem inicio antes mesmo da tomada de decisão pela mesma. Começa quando em meio a tantas brigas e conflitos, o casamento vai se desfazendo e culmina no “divórcio emocional”, no qual há um desencantamento pelo outro e surge o desejo da separação. Em seguida vem a separação física, econômica, decisões sobre guarda dos filhos, até a oficialização do divórcio na sociedade. Mas acima de todas as questões legais, o mais importante são os sentimentos que sempre surgem neste período.  

As pessoas que vivem uma separação passam por uma crise muito significativa em suas vidas, na qual por mais que saibam que aquela relação estava causando insatisfação, a perda da mesma também causa dor.  A vida nova que as espera pela frente, pode até parecer muito atraente, mas por outro lado leva a um desequilíbrio, onde toda a estabilidade, a rotina de uma vida e uma relação anterior é perdida. São forçados a se tornar mais autônomos, independentes (e essa independência nem sempre é só financeira, mas também emocional), precisam encarar uma vida totalmente nova e isso gera muito medo e dúvidas sobre o que fazer. 

Muitas vezes pela dificuldade que envolve esse processo, com todos esses conflitos internos e mudanças, as pessoas perpetuam uma relação falida, tentando fugir de um sofrimento, sem perceber que apenas estão mantendo outro problema e outros sofrimentos. 

A questão é que, se todas as alternativas para se tentar recuperar esta relação já foram esgotadas e não tiveram resultado, e se a opção pelo divórcio foi feita, então este deve ser feito da maneira mais saudável possível, para tentar minimizar o sofrimento de todos.

Durante o processo de separação, as pessoas vivem um período de “luto” pelo fim da união. Tem sentimentos de tristeza, depressão, muitas vezes irritação e é muito comum a mudança de humor constante (da depressão à euforia) neste período. Também é comum que aquele que tomou a decisão pela separação (se esta foi uma escolha unilateral) passe a sentir culpa pelo sofrimento gerado ao outro, a si mesmo e principalmente aos filhos.  

Aliás, a preocupação de como esta decisão irá refletir nos filhos, é um dos pontos mais difíceis para a maioria dos pais lidarem. Afinal, assim como tudo é novo e desconhecido para os pais, os filhos também passarão por inúmeras transformações em suas vidas e sem ter participado daquela escolha. Por isso, é natural que eles se sintam assustados, tristes e muitas vezes com raiva. Tudo isso vai depender da maturidade de cada um e principalmente de como está sendo vivido este processo. 

Uma criança sofrerá muito mais se esta virar alvo de disputas e brigas entre os pais ou se vivenciar um divórcio que envolva confusões, humilhações, por exemplo. Já se este processo de separação for bem pensado, analisando todas as consequências da mudança (tanto psicológicas quanto econômicas e sociais); se houver uma boa relação entre pais e filhos apesar da separação; se esta criança se sentir amparada e for esclarecida de tudo o que está acontecendo. Se compreender que continuará sendo amada e cuidada pelos pais, por mais que estes não estejam mais juntos; que elas têm liberdade para conversar sobre o que estão sentindo, com certeza estes filhos não se sentirão desestabilizados emocionalmente. 

Sofrimento haverá para todos, pois como disse toda perda gera sofrimento e com os filhos isso não será diferente. Mas dizer que os filhos de pais separados serão fatalmente filhos com problemas psicológicos é muito precipitado e até de certo modo preconceituoso. Até porque a manutenção de uma relação de brigas, discussões e agressões pode ser muito mais devastadora do que a separação por si só. E como os filhos vão reagir à separação vai variar muito de acordo com sua idade e desenvolvimento e, sobretudo, de acordo com a forma que este processo for conduzido, podendo esta criança ter uma vida saudável mesmo passando por tantas mudanças.

Mas nem sempre é tão fácil para os pais saberem lidar com tudo isso de forma saudável e sem conflitos. Até porque eles próprios estão vivendo momentos difíceis e tendo sentimentos de tristeza, raiva e solidão. 

Por isso é tão importante que este momento doloroso seja respeitado e se os cônjuges (ou um deles) perceberem que não estão dando conta de lidar com isso sozinhos, antes ou após a separação, é necessário que busquem uma ajuda psicológica.

Neste caso, a terapia terá a função de dar apoio e orientação no enfrentamento de todas as mudanças que ocorrerão, poderá facilitar a resolução dos conflitos tão comuns neste processo, auxiliar na elaboração das perdas, de sentimentos mal resolvidos, de possíveis questões pessoais que possam vir à tona durante a separação. Enfim, a terapia pode facilitar a passagem por este período difícil, que na verdade nada mais é que um período de mudanças que pode ser vivido com o mínimo de sofrimento possível, fortalecendo o indivíduo para essa nova fase de sua vida e mostrando a grande oportunidade que tem pela frente, de recomeçar a sua vida de forma leve e saudável e podendo viver tudo novo, de novo!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

“Eu me amo! Eu me amo! Não posso mais viver sem mim...”


Quem dera se todos nós acordássemos todos os dias cantarolando, sinceramente, este refrão da música do Ultrage a Rigor, não?  Séria ótimo!
Porém, isso nem sempre é assim. Pelo contrário, o “amor próprio” ou a falta dele, pode representar um grande inimigo na vida das pessoas.
Quando se fala em amor próprio ou auto estima, muitas vezes relacionamos com questões físicas: se estou bem com o meu corpo, se gosto de minha aparência, etc. Obviamente a questão física tem relação com a auto estima, mas ela vai além disso.
A auto estima envolve fatores emocionais muito importantes no desenvolvimento da identidade do indivíduo e que se não estiverem bem compreendidos, podem prejudicar a qualidade de vida do mesmo.
A auto estima nada mais é do que a auto imagem que cada um tem de si. Ela pode ser positiva e refletir em comportamentos positivos, tais como assertividade, auto confiança, etc.,  ou negativa e ter conseqüências comportamentais da mesma forma, ou seja, sentimentos de incompetência, insegurança, desvalorização de si mesmo,  entre outros.
Ela é construída desde a infância.  Desenvolvemos nossa visão de mundo e do nosso próprio eu, influenciados pelo olhar do outro, geralmente dos pais ou daquelas pessoas que nos são muito significativas durante a infância. É a partir da maneira que o outro nos vê e, principalmente da maneira que imaginamos que os outros nos vêem, que vamos criando nossa própria maneira de nos enxergar.
Quando isso ocorre de uma forma saudável, o indivíduo consegue desenvolver uma auto imagem positiva e forte. Porém, muitas vezes, por fatores que variam de pessoa para pessoa, o indivíduo desenvolve uma auto imagem distorcida, um sentimento de inferioridade, e isso gera inúmeros conflitos internos que podem o acompanhar até a vida adulta, refletindo em vários aspectos de suas vidas.
Quantas vezes já não ouvimos alguém dizer: “Eu tenho medo de tentar”; “Eu não consigo”, “Ele é muito melhor do que eu”, e etc.? Estas são típicas frases de pessoas que provavelmente não estão se valorizando adequadamente, isto é, que estão com a auto estima baixa.
E se isso não for interrompido, acabará culminando num circulo vicioso: a pessoa com auto estima baixa, se recusa a enfrentar determinadas situações que lhe geram insegurança, medo, ansiedade, na tentativa de evitar a frustração. Porém, a própria fuga já lhe causa frustração e a crença em si mesmo fica ainda mais rebaixada. Não acreditando em seu potencial, este indivíduo tende a se tornar ainda mais inseguro e evitar ainda mais as situações que lhe causam cada vez mais expectativa. O medo de falhar leva a uma ansiedade e uma angústia muito fortes,     por conta de todos os conflitos internos.
Por inúmeras vezes, por ter sentimentos de insegurança e inferioridade, a pessoa tem dificuldade de se relacionar nos grupos de amigos, no trabalho, na escola, nos relacionamentos, enfim, passa a ter uma dificuldade de convivência com os outros. Não consegue confiar nas pessoas, sente uma constante duvida de estar sendo passado para trás, muitas vezes se tornam indivíduos extremamente tímidos e que acabam escolhendo se isolar para não terem que enfrentar todas essas dificuldades. Deixam de frequentar festas, de participar de reuniões e podem até mesmo recusar oportunidades de trabalho. Isso acaba limitando a vivência da pessoa e gerando muito sofrimento.
Mas como tudo que envolve as emoções e os comportamentos do ser humano, a auto estima (distorcida) também não é algo rígido, fixo ou imutável, e é possível mudar esta situação. Ao se perceber com esses problemas e sentir que não da conta de mudar sem ajuda, a busca por uma terapia é fundamental.
Através da terapia, é possível que a pessoa entre em contato com os seus sentimentos, compreenda e supere os fatores que o levaram a se perceber dessa forma inferiorizada. A terapia visa mudar as crenças errôneas que o indivíduo tem a respeito de si mesmo. Aceitando e compreendendo esses fatores, a pessoa pode começar a mudar sua forma de se ver, através do seu auto conhecimento. A terapia não provoca milagres, mas sim proporciona apoio para o individuo enfrentar as situações que lhe causam insegurança e o auxilia a desenvolver um melhor desempenho social de uma forma geral. E, sobretudo ensina a aceitar a si mesmo, mesmo que seu desempenho não tenha sido perfeito. Ensina a lidar melhor com as frustrações, que fazem parte da vida e das nossas aprendizagens, sem que isso se torne um fator limitante.
A pessoa precisa se ver verdadeiramente, sem a influencia do que os outros pensam ou do que ela pensa que os outros pensam a respeito dela. Precisa se aceitar, reconhecer seus limites, mas acima de tudo os seus potenciais. Acreditar em si mesmo através de um melhor auto conhecimento e alcançar seu bem estar, com uma melhor qualidade de vida!

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O medo de sentir medo

Pânico! Terror! Talvez estas sejam sensações que a maioria das pessoas já experimentaram em alguma situação de suas vidas. Afinal, a sensação de “medo” é algo bastante natural e até mesmo importante para nossa sobrevivência. O medo não é necessariamente uma emoção negativa. Na verdade ele é, tanto para os homens, quanto para os animais, um mecanismo de autoproteção, de manutenção de nossas vidas, afinal de contas se não tivéssemos medo de nada nos arriscaríamos o tempo todo. 

O medo é uma emoção aprendida, onde vamos compreendendo ao longo da vida o que são objetos ou situações que devem gerar medo ou não. Assim, temer um assalto, um incêndio ou qualquer outro tipo de violência é algo racional e esperado. Diante de uma situação dessas, o nosso organismo dispara automaticamente mecanismos que nos fazem reagir, em ação de luta ou fuga, para nossa própria defesa.

O problema é quando esse medo toma proporções exageradas, incontroláveis e até irracionais ou quando estas reações automáticas de “luta e fuga” ocorrem diante de situações inofensivas.

O medo está sempre acompanhado da ansiedade e de certa forma apresentam definições muito parecidas, sendo o medo o “receio de fazer algo que represente perigo real ou imaginário” e a ansiedade “perturbação, apreensão que antecede momentos de perigo real ou imaginário”. 

Quando este medo passa a ser excessivo (o pavor ou pânico), aparece constantemente e causa danos na vida da pessoa, isso passa a ser denominado como Transtorno de Ansiedade, mais especificamente o Transtorno de Pânico ou popularmente conhecido como Síndrome do Pânico. 

A síndrome do pânico caracteriza-se pelas crises inesperadas de ansiedade em diversas situações, que anteriormente não geravam nenhum tipo de insegurança ou medo no individuo. Geralmente, durante uma crise, a pessoa apresenta sintomas psicológicos e físicos, tais como: angústia, inquietação, insônia, aflição crescente, enjoo, boca seca, suor, tremores, sensação de desmaio, falta de ar, tontura, taquicardia, dores no peito (muitas pessoas pensam estar enfartando e chegam a procurar um hospital, principalmente quando se trata da primeira crise). Nessas crises, que costumam ter duração de cinco a quarenta minutos, é muito comum o sentimento de medo de morrer nas pessoas, justamente pelos sintomas de taquicardia e falta de ar, sentimento este – medo de morrer - que pode se estender até para depois das crises. 

Ao contrário das fobias, essas crises acontecem sem um objeto desencadeador específico, por exemplo, fobia de baratas; e sem aviso prévio, ou seja, em um minuto a pessoa está bem e no minuto seguinte tem uma crise. 

Essa crise pode acontecer uma única vez, o que não significa que a pessoa tenha síndrome do pânico. Isso pode ocorrer por diversos fatores, até mesmo por estresse ou uso de algumas substâncias/drogas (cocaína, cigarro, álcool, anfetaminas, etc), mas se as crises se tornarem frequentes trata-se de um caso de transtorno do pânico.

A crise de pânico acontece devido a uma descarga de substâncias como a serotonina e a noradrenalina no cérebro, que fazem vir a tona todos esses sintomas acima citados. A questão é que isso ocorre diante de uma situação totalmente normal para aquele indivíduo. O organismo recebe um aviso: “Fuja! Perigo!”, totalmente sem propósito, já que não existe nenhum perigo real eminente naquele momento, levando a pessoa a um fortíssimo estado de ansiedade que por mais que ela saiba que não há o que temer, deseja fortemente fugir daquela situação. E saber que não há nada de perigoso ou ameaçador é ainda mais confuso ao indivíduo, que muitas vezes pensa que está ficando louco!

Porém, por mais que a pessoa saiba que não há perigo naquela situação em que viveu a crise, há uma associação entre elas e a pessoa passa a temer e evitar aquela situação. A cada nova crise surge um novo objeto fóbico, o que leva a pessoa cada vez mais a ter limitações em sua vida na tentativa de evitar uma nova crise. É o medo de ter medo! A pessoa é dominada por pensamentos de terror, sofre com a ansiedade antecipatória e tenta evitar essas situações. E com isso começa a ter sérios prejuízos em sua vida, pois passa a evitar sair de casa, ficar sozinha, muitas vezes deixa de trabalhar, de dirigir, de estudar, enfim, são inúmeros prejuízos na vida social, pessoal, profissional e até financeira desse indivíduo.

Inclusive sofre muito pela falta de entendimento e compreensão de amigos e familiares a respeito do seu caso, que muitas vezes passam a tratar aquele problema como “frescura” ou fraqueza da pessoa, promovendo um afastamento ao invés do apoio.

O problema é que, justamente por apresentar sintomas físicos, que levam a pessoa a pensar que tem alguma doença física, (possibilidade de sofrer um enfarte, derrame, entre outros), as pessoas que sofrem do transtorno de pânico, em geral passam por uma enorme peregrinação, de médico em médio, sem receber um diagnóstico preciso. Ou pior, ouvem a célebre frase: “você não tem nada, isso é estresse!”. Essa falta de conhecimento, tanto do médio quanto do paciente, faz com que a busca por uma ajuda adequada seja protelada e com isso o quadro só vai se agravando, além de gerar uma angústia enorme no indivíduo, que não entende o que está acontecendo consigo mesmo! Por isso é tão importante que tanto os profissionais da saúde, quanto a própria população, recebam mais informações a respeito desse problema para que possam buscar ajuda especializada e o tratamento adequado, diante dessa situação.

O diagnóstico da síndrome do pânico, não é algo tão simples de ser dado. É fundamental que em primeiro lugar, sejam descartadas todas as possibilidades físicas para aqueles sintomas que vem apresentando. 

Portanto é preciso sim que se façam exames para descartar qualquer doença física. Descartada essa condição, o diagnóstico é realizado através da história do paciente, do relato das crises e sintomas e até de seu histórico genético. Isso porque, as causas da síndrome do pânico podem estar ligadas ao conteúdo genético da pessoa, mas também, quase sempre, está atrelada a uma vivência muito traumática na vida do indivíduo. Pode ser a perda de alguém especial, um assalto, enfim, varia muito de pessoa para pessoa e nem sempre é uma situação que aconteceu há pouco tempo, o que dificulta à pessoa relacionar as crises ao fato. Pode ter sido algo que ocorreu há meses e que agora está culminando nas crises. 

O mais importante é saber que existe luz no fim do túnel! Chegado ao diagnóstico, a sensação de alívio para o indivíduo é grande, pois este passa a compreender o motivo de toda sua aflição e percebe que na verdade não está ficando louco e que a melhora pode ser alcançada. Em geral, o tratamento envolve um acompanhamento psicoterápico e o uso de medicamentos (antidepressivos) para acalmar os sintomas.
Mas é importante ressaltar que de nada adianta apenas tomar os remédios, pois estes apenas mascaram o problema com o alívio dos sintomas. Se não fizer a terapia em conjunto, assim que suspender o uso dos remédios os sintomas fatalmente reaparecerão. Já com o tratamento em conjunto (terapia mais medicamentos) é possível sim reverter ou atenuar muito o quadro de pânico.

O tratamento psicológico varia muito de profissional para profissional e de suas diversas técnicas, mas em geral, envolve técnicas de relaxamento, de respiração, mas o mais importante, permite que o indivíduo compreenda que seus sentimentos de medo são involuntários e entenda suas reações físicas, podendo retomar seus sentimentos de segurança, confiança em si mesmo, que são tão atingidos pelos pensamentos de terror; permite entender as causas do problema, a situação evocadora das crises (daí a importância de um acompanhamento adequado, pois como dito anteriormente, muitas vezes é difícil de se estabelecer a relação entre a crise e a situação traumática vivida, já que esta pode ter ocorrido há meses atrás) e acima de tudo, compreender e solucionar os conflitos envolvidos no problema e assim, poder se organizar novamente e retomar sua vida de maneira saudável.