quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

“Eu me amo! Eu me amo! Não posso mais viver sem mim...”


Quem dera se todos nós acordássemos todos os dias cantarolando, sinceramente, este refrão da música do Ultrage a Rigor, não?  Séria ótimo!
Porém, isso nem sempre é assim. Pelo contrário, o “amor próprio” ou a falta dele, pode representar um grande inimigo na vida das pessoas.
Quando se fala em amor próprio ou auto estima, muitas vezes relacionamos com questões físicas: se estou bem com o meu corpo, se gosto de minha aparência, etc. Obviamente a questão física tem relação com a auto estima, mas ela vai além disso.
A auto estima envolve fatores emocionais muito importantes no desenvolvimento da identidade do indivíduo e que se não estiverem bem compreendidos, podem prejudicar a qualidade de vida do mesmo.
A auto estima nada mais é do que a auto imagem que cada um tem de si. Ela pode ser positiva e refletir em comportamentos positivos, tais como assertividade, auto confiança, etc.,  ou negativa e ter conseqüências comportamentais da mesma forma, ou seja, sentimentos de incompetência, insegurança, desvalorização de si mesmo,  entre outros.
Ela é construída desde a infância.  Desenvolvemos nossa visão de mundo e do nosso próprio eu, influenciados pelo olhar do outro, geralmente dos pais ou daquelas pessoas que nos são muito significativas durante a infância. É a partir da maneira que o outro nos vê e, principalmente da maneira que imaginamos que os outros nos vêem, que vamos criando nossa própria maneira de nos enxergar.
Quando isso ocorre de uma forma saudável, o indivíduo consegue desenvolver uma auto imagem positiva e forte. Porém, muitas vezes, por fatores que variam de pessoa para pessoa, o indivíduo desenvolve uma auto imagem distorcida, um sentimento de inferioridade, e isso gera inúmeros conflitos internos que podem o acompanhar até a vida adulta, refletindo em vários aspectos de suas vidas.
Quantas vezes já não ouvimos alguém dizer: “Eu tenho medo de tentar”; “Eu não consigo”, “Ele é muito melhor do que eu”, e etc.? Estas são típicas frases de pessoas que provavelmente não estão se valorizando adequadamente, isto é, que estão com a auto estima baixa.
E se isso não for interrompido, acabará culminando num circulo vicioso: a pessoa com auto estima baixa, se recusa a enfrentar determinadas situações que lhe geram insegurança, medo, ansiedade, na tentativa de evitar a frustração. Porém, a própria fuga já lhe causa frustração e a crença em si mesmo fica ainda mais rebaixada. Não acreditando em seu potencial, este indivíduo tende a se tornar ainda mais inseguro e evitar ainda mais as situações que lhe causam cada vez mais expectativa. O medo de falhar leva a uma ansiedade e uma angústia muito fortes,     por conta de todos os conflitos internos.
Por inúmeras vezes, por ter sentimentos de insegurança e inferioridade, a pessoa tem dificuldade de se relacionar nos grupos de amigos, no trabalho, na escola, nos relacionamentos, enfim, passa a ter uma dificuldade de convivência com os outros. Não consegue confiar nas pessoas, sente uma constante duvida de estar sendo passado para trás, muitas vezes se tornam indivíduos extremamente tímidos e que acabam escolhendo se isolar para não terem que enfrentar todas essas dificuldades. Deixam de frequentar festas, de participar de reuniões e podem até mesmo recusar oportunidades de trabalho. Isso acaba limitando a vivência da pessoa e gerando muito sofrimento.
Mas como tudo que envolve as emoções e os comportamentos do ser humano, a auto estima (distorcida) também não é algo rígido, fixo ou imutável, e é possível mudar esta situação. Ao se perceber com esses problemas e sentir que não da conta de mudar sem ajuda, a busca por uma terapia é fundamental.
Através da terapia, é possível que a pessoa entre em contato com os seus sentimentos, compreenda e supere os fatores que o levaram a se perceber dessa forma inferiorizada. A terapia visa mudar as crenças errôneas que o indivíduo tem a respeito de si mesmo. Aceitando e compreendendo esses fatores, a pessoa pode começar a mudar sua forma de se ver, através do seu auto conhecimento. A terapia não provoca milagres, mas sim proporciona apoio para o individuo enfrentar as situações que lhe causam insegurança e o auxilia a desenvolver um melhor desempenho social de uma forma geral. E, sobretudo ensina a aceitar a si mesmo, mesmo que seu desempenho não tenha sido perfeito. Ensina a lidar melhor com as frustrações, que fazem parte da vida e das nossas aprendizagens, sem que isso se torne um fator limitante.
A pessoa precisa se ver verdadeiramente, sem a influencia do que os outros pensam ou do que ela pensa que os outros pensam a respeito dela. Precisa se aceitar, reconhecer seus limites, mas acima de tudo os seus potenciais. Acreditar em si mesmo através de um melhor auto conhecimento e alcançar seu bem estar, com uma melhor qualidade de vida!

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O medo de sentir medo

Pânico! Terror! Talvez estas sejam sensações que a maioria das pessoas já experimentaram em alguma situação de suas vidas. Afinal, a sensação de “medo” é algo bastante natural e até mesmo importante para nossa sobrevivência. O medo não é necessariamente uma emoção negativa. Na verdade ele é, tanto para os homens, quanto para os animais, um mecanismo de autoproteção, de manutenção de nossas vidas, afinal de contas se não tivéssemos medo de nada nos arriscaríamos o tempo todo. 

O medo é uma emoção aprendida, onde vamos compreendendo ao longo da vida o que são objetos ou situações que devem gerar medo ou não. Assim, temer um assalto, um incêndio ou qualquer outro tipo de violência é algo racional e esperado. Diante de uma situação dessas, o nosso organismo dispara automaticamente mecanismos que nos fazem reagir, em ação de luta ou fuga, para nossa própria defesa.

O problema é quando esse medo toma proporções exageradas, incontroláveis e até irracionais ou quando estas reações automáticas de “luta e fuga” ocorrem diante de situações inofensivas.

O medo está sempre acompanhado da ansiedade e de certa forma apresentam definições muito parecidas, sendo o medo o “receio de fazer algo que represente perigo real ou imaginário” e a ansiedade “perturbação, apreensão que antecede momentos de perigo real ou imaginário”. 

Quando este medo passa a ser excessivo (o pavor ou pânico), aparece constantemente e causa danos na vida da pessoa, isso passa a ser denominado como Transtorno de Ansiedade, mais especificamente o Transtorno de Pânico ou popularmente conhecido como Síndrome do Pânico. 

A síndrome do pânico caracteriza-se pelas crises inesperadas de ansiedade em diversas situações, que anteriormente não geravam nenhum tipo de insegurança ou medo no individuo. Geralmente, durante uma crise, a pessoa apresenta sintomas psicológicos e físicos, tais como: angústia, inquietação, insônia, aflição crescente, enjoo, boca seca, suor, tremores, sensação de desmaio, falta de ar, tontura, taquicardia, dores no peito (muitas pessoas pensam estar enfartando e chegam a procurar um hospital, principalmente quando se trata da primeira crise). Nessas crises, que costumam ter duração de cinco a quarenta minutos, é muito comum o sentimento de medo de morrer nas pessoas, justamente pelos sintomas de taquicardia e falta de ar, sentimento este – medo de morrer - que pode se estender até para depois das crises. 

Ao contrário das fobias, essas crises acontecem sem um objeto desencadeador específico, por exemplo, fobia de baratas; e sem aviso prévio, ou seja, em um minuto a pessoa está bem e no minuto seguinte tem uma crise. 

Essa crise pode acontecer uma única vez, o que não significa que a pessoa tenha síndrome do pânico. Isso pode ocorrer por diversos fatores, até mesmo por estresse ou uso de algumas substâncias/drogas (cocaína, cigarro, álcool, anfetaminas, etc), mas se as crises se tornarem frequentes trata-se de um caso de transtorno do pânico.

A crise de pânico acontece devido a uma descarga de substâncias como a serotonina e a noradrenalina no cérebro, que fazem vir a tona todos esses sintomas acima citados. A questão é que isso ocorre diante de uma situação totalmente normal para aquele indivíduo. O organismo recebe um aviso: “Fuja! Perigo!”, totalmente sem propósito, já que não existe nenhum perigo real eminente naquele momento, levando a pessoa a um fortíssimo estado de ansiedade que por mais que ela saiba que não há o que temer, deseja fortemente fugir daquela situação. E saber que não há nada de perigoso ou ameaçador é ainda mais confuso ao indivíduo, que muitas vezes pensa que está ficando louco!

Porém, por mais que a pessoa saiba que não há perigo naquela situação em que viveu a crise, há uma associação entre elas e a pessoa passa a temer e evitar aquela situação. A cada nova crise surge um novo objeto fóbico, o que leva a pessoa cada vez mais a ter limitações em sua vida na tentativa de evitar uma nova crise. É o medo de ter medo! A pessoa é dominada por pensamentos de terror, sofre com a ansiedade antecipatória e tenta evitar essas situações. E com isso começa a ter sérios prejuízos em sua vida, pois passa a evitar sair de casa, ficar sozinha, muitas vezes deixa de trabalhar, de dirigir, de estudar, enfim, são inúmeros prejuízos na vida social, pessoal, profissional e até financeira desse indivíduo.

Inclusive sofre muito pela falta de entendimento e compreensão de amigos e familiares a respeito do seu caso, que muitas vezes passam a tratar aquele problema como “frescura” ou fraqueza da pessoa, promovendo um afastamento ao invés do apoio.

O problema é que, justamente por apresentar sintomas físicos, que levam a pessoa a pensar que tem alguma doença física, (possibilidade de sofrer um enfarte, derrame, entre outros), as pessoas que sofrem do transtorno de pânico, em geral passam por uma enorme peregrinação, de médico em médio, sem receber um diagnóstico preciso. Ou pior, ouvem a célebre frase: “você não tem nada, isso é estresse!”. Essa falta de conhecimento, tanto do médio quanto do paciente, faz com que a busca por uma ajuda adequada seja protelada e com isso o quadro só vai se agravando, além de gerar uma angústia enorme no indivíduo, que não entende o que está acontecendo consigo mesmo! Por isso é tão importante que tanto os profissionais da saúde, quanto a própria população, recebam mais informações a respeito desse problema para que possam buscar ajuda especializada e o tratamento adequado, diante dessa situação.

O diagnóstico da síndrome do pânico, não é algo tão simples de ser dado. É fundamental que em primeiro lugar, sejam descartadas todas as possibilidades físicas para aqueles sintomas que vem apresentando. 

Portanto é preciso sim que se façam exames para descartar qualquer doença física. Descartada essa condição, o diagnóstico é realizado através da história do paciente, do relato das crises e sintomas e até de seu histórico genético. Isso porque, as causas da síndrome do pânico podem estar ligadas ao conteúdo genético da pessoa, mas também, quase sempre, está atrelada a uma vivência muito traumática na vida do indivíduo. Pode ser a perda de alguém especial, um assalto, enfim, varia muito de pessoa para pessoa e nem sempre é uma situação que aconteceu há pouco tempo, o que dificulta à pessoa relacionar as crises ao fato. Pode ter sido algo que ocorreu há meses e que agora está culminando nas crises. 

O mais importante é saber que existe luz no fim do túnel! Chegado ao diagnóstico, a sensação de alívio para o indivíduo é grande, pois este passa a compreender o motivo de toda sua aflição e percebe que na verdade não está ficando louco e que a melhora pode ser alcançada. Em geral, o tratamento envolve um acompanhamento psicoterápico e o uso de medicamentos (antidepressivos) para acalmar os sintomas.
Mas é importante ressaltar que de nada adianta apenas tomar os remédios, pois estes apenas mascaram o problema com o alívio dos sintomas. Se não fizer a terapia em conjunto, assim que suspender o uso dos remédios os sintomas fatalmente reaparecerão. Já com o tratamento em conjunto (terapia mais medicamentos) é possível sim reverter ou atenuar muito o quadro de pânico.

O tratamento psicológico varia muito de profissional para profissional e de suas diversas técnicas, mas em geral, envolve técnicas de relaxamento, de respiração, mas o mais importante, permite que o indivíduo compreenda que seus sentimentos de medo são involuntários e entenda suas reações físicas, podendo retomar seus sentimentos de segurança, confiança em si mesmo, que são tão atingidos pelos pensamentos de terror; permite entender as causas do problema, a situação evocadora das crises (daí a importância de um acompanhamento adequado, pois como dito anteriormente, muitas vezes é difícil de se estabelecer a relação entre a crise e a situação traumática vivida, já que esta pode ter ocorrido há meses atrás) e acima de tudo, compreender e solucionar os conflitos envolvidos no problema e assim, poder se organizar novamente e retomar sua vida de maneira saudável.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

CONTO DE FADAS: SEU PAPEL NA FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DA CRIANÇA


Amanhã é dia das crianças como todos sabem e achei interessante pensar um pouquinho a respeito delas hoje. Nesta última semana surgiu no Facebook uma polêmica campanha para mudar nossas fotos de perfil por desenhos animados que tivessem nos marcado na infância, para que se refletisse com isso a respeito da violência infantil. Embora tenha recebido muitos adeptos, o movimento não teve grandes avanços nesse sentido...As pessoas possivelmente trocaram suas fotos em sinal de “apoio” a campanha, mas nada se discutiu sobre o assunto.
Mas a grande questão que quero chegar, não se refere a violência infantil, mas sim que todo esse movimento de trocar de fotos mostrou um pouco sobre as identificações de cada um com seus personagens na infância; desenhos, filmes, seriados que marcaram suas vidas...e isso a principio parece meio bobo, mas não é! O conto de fadas é uma grande ferramenta de desenvolvimento das crianças.


Hoje em dia, talvez as crianças estejam muito mais parecidas com a Boo de Monstros S.A., a qual não se assustava, mas sim se divertia com os monstros!...rs... Afinal elas já nascem com um número de informações e estímulos muito maior do que era antigamente. Assim, amadurecem mais rápido, aprendem mais rápido...tudo acontece mais rápido.
Enfim, o mundo mudou e as crianças também mudaram, porém, as relações discutidas nos contos de fadas, continuam muito atuais. Eles tratam de abandono, traição, frustração, separação, morte e até mesmo violência! Todos temas muito contemporâneos.
E é a partir do contato das crianças com os contos de fadas, com o mundo imaginário, que elas começarão aprender a lidar com estes seus sentimentos.
Ao assistir um desenho, um filme infantil, a criança poderá sair um pouco da realidade e viver aquele mundo de fantasia, onde pode ser forte, lutar contra seus monstros, mas onde também pode sentir medo, abandono, separações... Enfim, cada um vai se identificar com um ou outro personagem, com o monstro ou com o príncipe, dependendo de sua realidade, de seus medos, de seus conflitos naquele momento. Isto é, a criança terá seu sentimento representado no personagem com o qual mais se identifica, de acordo com o momento e conflito que estiver vivendo.  
E isso facilita o desenvolvimento do seu eu, pois ao liberar sua imaginação a partir do desenho, a criança se permite entrar em contato com seus conflitos e tentar resolvê-los.  A princípio de uma maneira mais segura, isto é, distante, no mundo do imaginário, da fantasia, e aos poucos podendo transpor isso para sua vida real e seus sentimentos de alegrias, tristezas, angústias... Aprendendo a lidar com seus medos, a lutar contra seus monstros internos, a ter tolerância diante das frustrações do dia a dia, quando nem sempre o final é feliz como se esperava.
Ou seja, é através da imaginação que a criança perceberá seus sentimentos ilustrados, por mais absurdos que possam parecer para eles, como raiva e ódio dos pais (o que é natural, mas muito conflituoso), diante das experiências vividas pelos personagens. E a criança aprende com isso a crescer, elaborar e construir sua identidade!
Claro que tudo isso não acontece magicamente, o desenho é apenas um dos estímulos, um facilitador deste processo e a imaginação é apenas uma nuance deste, a formação de uma criança é muito mais ampla. Entretanto, os filmes (contos, desenhos) podem ajudar muito no sentido de abrir um caminho para discussão de sentimentos, de medos, de conflitos familiares; podem facilitar, como já dito, a criança a entrar em contato com seus “fantasmas emocionais”; mas tudo isso precisa ser amparado pelos pais, pelas pessoas que estão próximas a esta criança, para que façam uso desse instrumento de uma maneira saudável, colaborando para a construção da identidade/personalidade dessa criança!
 A participação dos pais e educadores é fundamental, afinal as crianças precisam de apoio para se sentir seguras, precisam de limites, diálogo e auxílio para separar o real do imaginário e o mais importante, precisam do vínculo com seus pais para que se desenvolva de uma maneira saudável.

Joice Pacheco Ambrósio
Psicóloga
CRP: 06/90252

terça-feira, 6 de setembro de 2011

COMUNICAÇÃO: A GRANDE FERRAMENTA PARA UMA VIDA SAUDÁVEL A DOIS


Ao longo de minha vida profissional e por que não dizer também de minha vida pessoal, venho percebendo que uma das principais queixas das pessoas está relacionada aos problemas no relacionamento. As maneiras que essas queixas se apresentam são variadas, tais como, falta de atenção, de carinho, compreensão, cumplicidade... excesso de cobrança, traição, desrespeito...enfim, são muitas  questões.
 Entretanto, vejo que grande parte dessas questões poderiam ser resolvidas ou até mesmo evitadas com o desenvolvimento de uma grande habilidade entre esses casais: uma boa comunicação.
Quando se fala em diálogo logo pensamos naquela famosa e temida cena da “discussão da relação”, correto? Onde todos os problemas, que em geral já estão bem acumulados, são colocados em pauta, todos de uma só vez! Ambos se sentem no direito de jogar na cara do outro, todas as insatisfações e quase sempre no final da conversa só conseguem ganhar mais um nó na garganta e nenhuma solução para os problemas.
Claro, afinal a vida não é como um texto, no qual temos a chance de passar tudo a limpo! Não da pra querer resolver inúmeras questões numa simples conversa. Questões que muitas vezes nem eram conhecidas pelo outro ou sequer representavam um problema para a outra parte.
Mas podemos sim fazer uma releitura e avaliar onde estamos errando e acertando. Mas pra isso não se pode deixar os problemas acumulando até que estes se tornem insuportáveis e muito maiores do que eram no início.
Muitas vezes na tentativa de se evitar uma discussão, alguns casais ou uma das partes do casal, deixa de falar sobre o que está sentindo. Sabendo que aquele assunto atinge uma zona de tensão entre eles, o assunto é evitado. E é aí que mora o perigo, afinal se a insatisfação não é expressa, isso dá margem para interpretações equivocadas da outra parte. Tanto no sentindo de ignorar aquele problema, quanto de não compreender que aquilo se trata de um problema entre o casal e/ou que aquilo fere a outra pessoa. Com isso, o comportamento ou situação permanece e só tende a aumentar. E a tentativa de se evitar uma discussão pode gerar, ao contrário, uma discussão ainda maior! Afinal, quando se tocar nesse assunto que vinha sendo protelado, a tolerância da parte afetada certamente já estará diminuída e aquele diálogo já não será feito de maneira saudável. Ou seja, o “não dito” muitas vezes é muito mais problemático do que o enfrentamento do assunto ameaçador, se este fosse feito de maneira adequada.
Isso mostra o quanto a obstrução da comunicação, que deveria ser uma ferramenta de facilitação entre o casal, pode levar a relação a um desequilíbrio.
E afinal, qual é a maneira adequada então, de se enfrentar um conflito?
Antes de mais nada é importante que se tenha a compreensão de que, quando se fala de um relacionamento, seja ele qual for, (mas vamos considerar aqui o namoro/noivado e casamento), é preciso levar em conta que estamos lidando com DUAS pessoas. E essas pessoas são seres singulares, com defeitos e qualidades!
Essa diferença pode tanto levar à harmonia, quanto à tensão diante do imprevisto, do desigual. Na maioria das vezes, as pessoas que formam este casal tiveram educações diferentes, desenvolveram valores diferentes, tiveram experiências de vida diferentes, em alguns casos possuem maturidades distintas e trazem suas questões pessoais para o relacionamento. Enfim, a visão de mundo do casal nem sempre é a mesma e daí surgem os conflitos.
Mas então quer dizer que para um casal dar certo eles tem que ser exatamente iguais, pensar exatamente da mesma maneira e concordar sempre com tudo? Claro que não, até porque se fosse assim não existiria nenhum casal junto até hoje!
A questão aqui não é pensar da mesma maneira, mas aprender a chegar num equilíbrio. E para isso é fundamental que se tente compreender e que se aprenda a respeitar a visão de mundo e de vida do parceiro. E que ambos desenvolvam a habilidade de dialogar!
As pessoas quando se relacionam não deixam de serem indivíduos. Continuam sendo seres únicos e singulares. Por mais afinidades que um casal possa ter, sempre haverá alguma questão sobre a qual não vão concordar. E é aí que mora o grande desafio do equilíbrio.
Para se conquistar o bem estar numa relação a dois, é preciso que ambos aprendam a ceder! E veja, ceder não é sinônimo de se anular! É fundamental que as individualidades sejam respeitadas e mantidas após o casamento, namoro, etc. Seus desejos, planos, sonhos, objetivos pessoais devem continuar existindo. O sentimento de posse pelo outro e até mesmo a disputa pelo poder dentro de uma relação, ou ainda o comportamento de se anular para viver a vida do outro, são grandes equívocos cometidos.
Muitas pessoas reclamam que o outro “mudou” depois do casamento ou depois de muitos anos de namoro. Ou então que “esta não foi a pessoa por quem eu me apaixonei”. Claro que cada caso é um caso, mas na maioria das vezes, as pessoas não percebem que o que houve foi uma simbiose tão grande entre o casal, que eles deixaram de ser eles mesmos! Acabam se tornando simplesmente uma extensão do outro e se esquecem de ter vida própria. Amar o outro mais que a si próprio, perder sua individualidade, são grandes erros. Numa visão extremamente romântica e até egoísta, isso pode ser muito bonito, mas garanto que na vida real isso não funciona por muito tempo. Isso fatalmente gerará um desgaste e um descontentamento de ambas as partes e consequentemente virão as cobranças e arrependimentos.
Ao contrário disso, é importante que se compreenda que quando se está com uma pessoa, o que muda é que se tem mais alguém para compartilhar a vida, sem você ter que deixar de ter sua vida própria. Você passa a ter, além de seus projetos pessoais, os projetos de casal! E todas as aprendizagens, conquistas, dificuldades, enfim... a vida como um todo, passa a ser compartilhada com mais alguém. E compartilhar não significa forçar ou manipular o outro para aceitar tudo o que se deseja. O equilíbrio está justamente nisso: em não supervalorizar nem subestimar o “eu” e nem o “nós”, mas conciliar ambos de maneira equilibrada.
Acho que a melhor explicação que já recebi de um dos símbolos mais vistos em casamentos, que são as alianças entrelaçadas, foi de um querido colega de profissão, que dizia que cada aliança representa uma das partes do casal. Num lado eu, no outro você. E o meio delas, onde se cruzam, forma-se o nós!

 Essa foi uma das melhores interpretações que já ouvi a respeito desse símbolo. Afinal é justamente isso! Dois indivíduos que não deixam de ser únicos, mas ao contrário disso, compartilham e criam mais uma faceta em suas vidas: o “nós”.
E nessa nova perspectiva, o nós, é preciso que cada um se conheça suficientemente para que se possa respeitar o outro, compreender o outro, saber que aspectos são seus e que aspectos são do outro dentro de um conflito e ter humildade para reconhecer suas responsabilidades diante de um problema. Saber qual é o momento de ouvir e de falar, saber como falar, não precisar de agressividade para se conversar sobre as questões que envolvem o casal, por mais tensão que exista no assunto. E compreendendo tudo isso, chegar ao tão esperado equilíbrio entre o casal!
Falando assim parece tudo muito utópico, inalcançável, idealizado! Mas posso garantir que tudo isso é possível de ser atingido, se o casal souber fazer uso de uma boa comunicação. Mas atenção! Comunicação é diferente de informação! Informar alguém é algo unilateral, você apenas dá conhecimento de algo a alguém. Já na comunicação, o processo é bilateral, você tem que saber falar e também ouvir, para assim se tornar um processo que promova mudanças no casal.
Essa comunicação, segundo Carl Rogers, deve ser feita de maneira autêntica. Para isso, cada elemento do casal deve ser quem realmente é, sem máscaras. Além disso, Rogers propõe três atitudes comunicacionais básicas: a coerência / congruência, a aceitação positiva incondicional e a compreensão empática.
A coerência e congruência, diz respeito a pessoa ser ela mesma, ser autentica, transparente, sem defesas com relação aos seus sentimentos. A aceitação positiva incondicional refere-se a aceitar as manifestações do outro, sem julgar previamente. E a compreensão empática, ou empatia, é a atitude fundamental de acordo com Rogers, para uma verdadeira compreensão do outro e para uma verdadeira comunicação autêntica entre as pessoas.
A empatia, muitas vezes confundida com simpatia é a habilidade de se colocar no lugar do outro. E sem interferência de seus próprios valores, conseguir sentir como o outro está se sentindo. E a partir disso, compreendê-lo.
Para se evoluir do eu e você para o nós, é muito importante que ambos saibam ter empatia. Isso não significa que a partir disso você irá aceitar e gostar de todos os comportamentos, atitudes de seu (sua) parceiro (a), mas sim que você aprenderá a lidar melhor com suas angústias, a lidar melhor com as angústias do outro e acima de tudo, a respeitar os limites.
Colocando em prática todas essas atitudes e praticando uma boa comunicação, o casal estará contribuindo para um maior desenvolvimento pessoal e consequentemente construindo uma relação mais equilibrada e saudável.
O casamento não é algo sólido e rígido como muitos pensam. Ao contrário, ele é um processo que envolve questões e transformações de duas pessoas. Por isso é tão importante que ambos se descubram, saibam o que querem, aprendam a se relacionar, a se comunicar sem repetir os padrões destrutivos que vem sendo usados, encontrando uma maneira de solucionar os conflitos que satisfaça a ambos.
Quando o casal não consegue alcançar este equilíbrio sozinho, uma alternativa é buscar a terapia. Esta pode ser individual ou de casal, vai variar de caso a caso.
O importante é que o casal busque essa ajuda e lute para a mudança desta relação, enquanto esta ainda valha a pena!  Através da terapia, os indivíduos vão aprender a ser mais plena e profundamente eles mesmos e com isso desenvolver uma comunicação autentica entre si.
Obviamente nem todos os problemas de relacionamento estão ligados a falta de comunicação entre o casal. Este é um dos aspectos do qual falei hoje. Mas no que se refere à comunicação, acredito que estes são os pontos essenciais para que se obtenha uma boa comunicação entre o casal e com isso que se tenha uma vida saudável e feliz a dois!